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30 de mar. de 2012

Mudanças climáticas





James Hansen conta a história de seu envolvimento com a ciência e o debate sobre a mudança climática global. Dessa forma ele nos mostra as incontestáveis evidências que a mudança está acontecendo e por que isto o deixa profundamente preocupado com o futuro.
O que é que eu sei que poderia me levar, um cientista discreto do meio oeste, a ter sido preso durante um protesto em frente da Casa Branca? O que você faria se soubesse o que eu sei? Comecemos por saber como cheguei a este ponto. Tive sorte em crescer numa época em que não era difícil para um filho de um fazendeiro chegar a uma universidade estadual.

E eu tive muita sorte de ir para a Universidade de Iowa onde pude estudar com o professor James Van Allen que construiu instrumentos para o primeiros satélites americanos.

Professor Van Allen me falou sobre as observações de Vênus, de que havia uma intensa radiação de microondas. Isto significava que  Vênus  tinha uma ionosfera? Ou que  Vênus  é extremamente quente? A resposta correta, confirmada pela nave espacial soviética Venera, era que  Vênus era muito quente - 482ºCelsius. E se mantinha quente devido a uma grossa atmosfera de dióxido de carbono (CO2).

Tive a felicidade de trabalhar na NASA e propus um voo experimental a Vênus e foi aceito. Nosso instrumento tirou esta foto do véu de Vênus, que depois descobriu-se que era uma nuvem de ácido sulfúrico. Mas enquanto nosso instrumento era construído, eu acabei me envolvendo em cálculos do efeito estufa aqui na Terra, porque descobrimos que a composição de nossa atmosfera estava mudando. Finalmente, eu me retirei do papel de principal investigador do nosso experimento de Vênus porque um planeta se modificando em frente dos nossos olhos é mais interessante e importante. Suas mudanças afetarão toda a humanidade.

O efeito estufa tinha sido bem entendido há mais de um século. O físico britânico John Tyndall, na década de 1850, fez medidas em laboratório da radiação infravermelha, que é calor. Ele mostrou que gases do tipo CO2 absorvem o calor, portanto agem como um cobertor aquecendo a superfície da Terra.

Trabalhei com outros cientistas para analisar as observações climáticas da Terra. Em 1981, publicamos um artigo na revista Science concluindo que o aquecimento observado de 0,4ºCelcius no século passado era consistente com o efeito estufa devido ao aumento do CO2. A Terra deveria aquecer na década de 1980, e o aquecimento deveria exceder o nível de ruído aleatório do clima por volta do final do século. Nós também dissemos que no séc. XXI veriámos uma mudança das zonas climáticas, a criação de regiões propensas a seca na América do Norte e Ásia, erosão de geleiras, aumento do nível do mar e a abertura da famosa Passagem Noroeste. Todos estes impactos ou aconteceram ou estão a caminho.

O Efeito Estufa e o "Efeito Casa Branca"
Este artigo foi mencionado na primeira página do New York Times e me levou a testemunhar no Congresso na década de 1980, testemunho no qual enfatizei que o aquecimento global aumenta ambos os extremos do ciclo das águas na Terra. Ondas de calor e seca de um lado, diretamente do aquecimento, mas também, pois o aquecimento da atmosfera retem mais vapor de água com sua energia latente, as chuvas se tornarão mais violentas. Haverá tempestades mais fortes e maiores inundações. O alarido do aquecimento global consome muito tempo e me distraiu do fazer ciência -- parte porque eu reclamava que a Casa Branca alterou meu testemunho. Daí decidi voltar a fazer somente ciência e deixar a comunicação para os outros.

Por volta de 15 anos depois, evidências do aquecimento global eram muito mais fortes. A maioria das coisas mencionadas no nosso artigo de 1981 eram fatos. Tive o privilégio de falar duas vezes com o presidente da força tarefa do clima. Mas as políticas de energia continuam restritas a em achar mais combustível fóssil. Naquela época tínhamos dois netos, Sophie e Connor. Decidi que não queria que eles no futuro dissessem: 'Vovô entendia o que estava acontecendo, mas ele não deixou claro.' Então decidi dar uma palestra criticando a falta de uma política de energia.

Eu dei uma palestra na Universidade de Iowa em 2004 e no encontro de 2005 da União Americana de Geofísica. Isto levou a chamadas da Casa Branca para a central da NASA e foi me dito que não poderia dar palestras ou conversar com a midia sem uma prévia aprovação explicita da central da NASA. Depois informei ao New York Times de tais restrições, e a NASA foi obrigada a encerrar esta censura. Mas houve consequências. Eu andei usando a primeira linha da missão da NASA, 'Para entender e proteger o planeta morada,' para justificar minhas palestras. Logo a primeira linha da missão foi apagada, e nunca mais apareceu.

Nas semanas seguintes eu me empenhei mais e mais em tentar comunicar a urgência de mudar as políticas de energia, enquanto pesquisava a física da mudança climática. Deixe-me descrever as conclusões mais importantes da física - primeiro, do equílibrio da energia da Terra e, segundo, da história do clima da Terra.



Adicionando CO2 ao ar como se colocassemos mais um cobertor na cama, reduz-se a radiação de calor da Terra para o espaço, portanto há um desequilíbrio momentâneo de energia. Mais energia entra do que sai, até que a Terra esquenta o suficiente para novamente irradiar para o espaço tanta energia quanto ela absorve do Sol. Portanto a quantidade chave é a do desequilibrio de energia da Terra. Há mais energia vindo do que saindo? Se sim, mais calor está por vir. Acontecerá sem aumentar os gases de efeito estufa.

Agora finalmente, podemos medir precisamente o desequilíbrio de energia da Terra. medindo a quantidade de calor nos reservatórios de calor da Terra. O maior reservatório, o oceano, era o menos medido, até que mais de 3.000 argos boiaram eram distribuido entre os oceanos do mundo. Estas boias mostraram que a metade superior do oceano esta ganhando calor a uma taxa expressiva. As profundezas também estão ganhando calor a uma taxa menor, e energia está indo para derreter o gelo em todo o planeta. E na terra, nas profundidades de dezenas de metros, também está aquecdendo.

O total do desequilíbiro de energia agora é de aproximadamente .6 watt por metro quadrado. Não parece ser muito, mas o somatório de todo o mundo, é enorme. É aproximadamente 20 vezes maior que a taxa de energia usada por toda a humanidade. É equivalente à explosão de 400.000 bombas de Hiroshima por dia 365 dias por ano. Este é o tanto de energia extra que a Terra ganha por dia. Este desequilíbrio, se nós queremos estabilizar o clima, significa que temos de reduzir o CO2 de 391ppm. partes por milhão, para 350ppm. Essa é a mudança necessária para restaurar o equilíbrio e previnir mais aquecimento.

Os contestadores das mudanças climáticas argumentam que o Sol é a principal causa das mudanças climáticas. Mas a medição do desequilíbrio de energia ocorreu durante a menor atividade solar registrada, quando a enegia do Sol atingiu a Terra em seu mínimo. Ainda assim, há mais enegia chegando do que saindo. Isto mostra que o efeito das variações do Sol no clima é secundário pelo crescimento do efeito estufa, principalmente pela queima de combustível fóssil.
Temperatura global, concentração de CO2 e nível dos mar nos últimos 800.000 anos

Considere a história do clima na Terra. Estas curvas da temperatura global, CO2 da atmosfera e nível do mar foram obtidos do centro dos oceanos e do centro do gelo Antártico, dos sedimentos dos oceanos e dos flocos de neve que se empilham ano após ano por mais de 800.000 anos formando uma geleira de 3,2km de espessura. Como vê, há uma alta correlação entre temperatura, CO2 e nível do mar. Um exame cuidadoso mostra que a mudança de temperatura influi um pouco na mudança de CO2 por alguns séculos.

Os contestadores da mudança climática gostam de usar este fato para confundir e enganar as pessoas dizendo, 'Veja, a temperatura causa uma mudança no CO2, e não o contrário.' Mas esse atraso é exatamente o que se espera.

Pequenas mudanças na órbita da Terra que ocorrem durante dezenas de centenas de milhares de anos alteram a distribuição da insolação na Terra. Quando há mais insolação nas altas latitudes no verão, as geleiras derretem.
O encolhimento das geleiras tornam o planeta mais escuro, daí ele absorve mais luz solar e aquece. Um oceano mais quente solta CO2, exatamente como uma Coca-Cola morna. E mais CO2 causa mais aquecimento. 
Portanto CO2, metano e geleiras são realimentações que amplificam a mudança da temperatura global fazendo com que estas antigas oscilações climáticas sejam enormes, apesar de a mudança climática ter se iniciado por uma força bem fraca.

O ponto importante é que estas mesmas realimentações ocorrerão hoje. A física não muda. Enquanto a Terra aquece, agora devido a quantidade extra de CO2 que colocamos na atmosfera, o gelo derreterá, e o CO2 e o metano serão liberados pelo aquecimento dos oceanos e o derreter de geleiras eternas (permafrost). Enquanto não podemos dizer exatamente o quão rápido estas realimentações positivas ocorrerão, é certo que ocorrerão, a menos que paremos o aquecimento. Há evidências que as realimentações já começaram.
Medições precisas feita por GRACE, o satélite de gravidade, revela que tanto a Groelândia quanto Antártica estão perdendo massa, centenas de quilômetros cúbicos por ano. 
E a taxa vem acelerando desde que as medições se iniciaram há nove anos. O metano também está começando a escapar das geleiras permanentes.

O quanto podemos esperar de aumento do nível do mar?
A última vez que o nível de CO2 foi de 390 ppm, o valor de hoje, o nível do mar estava mais alto pelo menos 15m, 50 pés. Onde vocês estão sentados agora estaria submerso. 
Muitas estimativas indicam, este século, que teremos ao menos mais um metro. Acho que será mais se continuarmos a queimar combustível fóssil, talvez até 5m, ou seja 18pés. neste século ou pouco depois.

O ponto importante é que nós iniciamos o processo que está fora do controle humano. As geleiras continurão a desintegrar-se por séculos Não haverá uma fronteira com o mar estável . As consequêcias econômicas são quase impensáveis. Centenas de devastações similares a New Orleans pelo mundo. O que pode ser mais repreensivo, se a recusa do clima continuar, é a extinção de espécies. A borboleta real pode ser uma das 20 a 50% de todas as espécias que o Painel Intergovernamental da Mudança Climática estima que estão marcadas pela extinção no final do século se continuarmos no mesmo nível de uso de combustível fóssil.
O que seria um aumento de 5 m no nível do mar no mapa da Flórida
O aquecimento global já está afetando as pessoas. A onda de calor e seca no Texas, Oklahoma e México ano passado, Moscou no ano retrasado e na Europa em 2003 foram todos eventos excepcionais, mais que três desvios padrão fora do normal. Há cinqüenta anos, tais anomalias cobriam apenas de 2 a 3 décimos de 1% da área de terra. Ultimamente, por causa do aquecimento normal, elas cobrem perto de 10% -- uma aumento pelo fator de 25 a 50. Portanto podemos dizer com algum grau de certeza que as serevas ondas de calor no Texas e em Moscou não são naturais; foram causadas pelo aquecimento global. Um grande impacto, se o aquecimento global continuar, acontecerá na alimentação de nosso pais e no mundo, o meio oeste e a grande planície, que se espera ficarão sujeitas a fortes secas , pior que o Dust Bowl, dentro de poucas décadas, se permitirmos a continuidade do aquecimento global.

A medida que fui indo mais fundo numa tentativa de comunicar, dando palestras em 10 países, sendo preso, usando as férias que acumulei em mais de 30 anos? Mais netos me ajudaram. Jake é muito positivo, um garoto entusiasmado. Na idade de dois anos e meio, ele acha que pode proteger sua irmã de dois dias e meio. Seria imoral abandonar estes jovens com um sistema climático saindo do controle.

Agora a tragédia sobre a mudança climática é que nós podemos resolve-la com uma simples, honesta abordagem de aumentar gradualmente a taxa do carbono cobrado das companhias de combustível fóssil e distribuindo 100% eletronicamente todos os meses aos residentes legais com base per capita sem o governo reter um centavo. A maioria das pessoas conseguiria um dividendo mensal maior do que pagariam com o aumento dos preços. Esta taxa e dividendo estimulariam a economia e a inovação, criando milhões de empregos. O principal requisito para nos levar rapidamente a um futuro de energia limpa.

Muitos dos principais economistas são coautores desta proposta. Jim DiPeso dos Republicanos a favor da proteção ambiental descreve deste modo: 'Transparente. Baseado no mercado. Não aumenta o governo. Deixa as decisões sobre energia para os indivíduos. Parece ser uma plano conservador para o clima.'

Mas em vez de sugerir um aumento de taxa para emissão de carbono para fazer o combustível fóssil pagar seu real custo para a sociedade, nossos governantes forçam as pessaos a subdisiar o combustível fóssil com 400 a 500 bilhões de dólares por ano mundo afora, encorajando assim a extração de todo o combustível fóssil -- removendo montanhas, mineração de carvão, fracking, alcatrão, betumem, perfuração profunda no oceano Ártico. Este caminho, se continuar, garantirá que passaremos o ponto levando ao desgelo das geleiras que acelerará a uma condição sem controle para as futuras gerações. Uma grande fração das espécias irão à extinção. O aumento da intensidade das secas e inundações terão um forte impacto na alimentação do mundo, causando fome em massa e um declínio econômico.
Imagine um asteróide gigante em curso de colisão direta com a Terra. Isso é o equivalente ao que enfrentamos agora. 
Ainda, vacilamos, não agimos para desviar o asteróide, apesar de que o quanto mais esperamos, mais difícil e caro fica. Se tivéssemos começado em 2005, teria exigido uma redução de emissão de 3% ao ano para restaurar o equilíbrio energético do planeta e estabilizar o clima neste século. Se começarmos no próximo ano, será 6% ao ano. Se esperarmos 10 anos, será 15% ao ano - extremamente difícil e caro, talvez impossível. Mas não estamos nem começando.

Agora vocês sabem o que eu sei que me faz soar este alarme. Claro, eu não tenho esta mensagem clara. A ciência é clara. Eu preciso de sua ajuda para comunicar a gravidade e a urgência desta situação e sua solução mais eficazmente. Devemos isso aos nossos filhos e netos.

     Mudanças climáticas 1 de 2

   

     Mudanças climáticas: uma realidade (trailer 2)




[Via BBA]