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5 de ago. de 2012

No meu tempo!... Poesia!



Eu sou de um tempo distante
o chamado tempo da onça                                    
tempo em que qualquer máquina
era uma geringonça.


Sou do tempo em que
se amarrava cachorro com lingüiça
que aos domingos
a gente ia à missa.
Trago lembranças bacanas
das Casas Pernambucanas
das farras, no bar do Mendes
dos chapéus Thomaz que não mais vende
Tempo em que adultério era crime
e o Flamengo tinha time.
Do busca-pé, do rojão,
Sou do tempo do xarope São João.



Venho do tempo em que
menino só gostava de menina
tempo do confete e serpentina
nas festas de Carnaval
do Ideal Clube, Clube Alto do Cruzeiro,
de baile fenomenal.
Sou do tempo do bicarbonato
Do lançamento do Sonrisal.
Sou do tempo em que futebol
era pra macho
em que ninguém sossegava o facho
nos bailes de formatura.


Dos play-boys botando banca
Tempo que o telefone era preto
e a geladeira era branca.
Sou do tempo em que se confiava
nas companhias aéreas
Em que a penicilina
curava as doenças venéreas.
Sou do tempo da Rádio Jornal
do lança perfume no Carnaval
do calouro na hora da peneira
Tempo em que pó era o mesmo que poeira.


Tempo do terno risca de giz
da calça de boca apertada
dos cortiços, da Estação,
de ir torcer pelo timão
e lembrar da mãe do juiz.
Sou do tempo do Dói-Codi
do comigo-ninguém-pode
da ditadura envergonhada
Sou do tempo em que ficar
era não ir...


Tempo de permitir
passeios à beira-mar
tempo de se curtir a vida
sem medo de bala perdida
tempo de respeito pelos pais
enfim, sou de um tempo que não
volta mais.


Sou do tempo da brilhantina
do laquê, da Glostora, do Gumex
o correio não tinha Sedex
o que vinha era telegrama
trazendo boa e má notícia
sou do tempo em que a polícia
perseguia todo sambista
que tivesse alguma fama.


Tempo em que mulher é que usava brinco
em que as portas não tinham trinco
e que se dizia demorou
só pra quem chegasse atrasado.
As calças não perdiam o vinco
picada era só na bunda
se aquela febre profunda
não tivesse melhorado.


No meu tempo coca era refrigerante
e o cavalheiro, elegante,
abria a porta do carro.
Aceitava-se qualquer cigarro
sem medo de ser um novo fato
só preço podia ser barato.
Bicho era só o animal
cara, o rosto do pobre mortal.


Sou do tempo do tergal
do ban-lon, do terilene,
da Emilinha Borba e da Marlene
no sucesso musical.
Sou do tempo do mocinho
e o vilão com cara de mau
do reclame de fortificante
do óleo de fígado de bacalhau.


Sou do tempo do coreto e da retreta
da Banda do Céu a entoar como letra
músicas em toda e qualquer esquina.
Sou do tempo da estricnina
veneno tão poderoso


Sou do tempo do leite de magnésia
do sagu, do fubá Mimoso
do fosfato que curava a amnésia
Sou do tempo da cocoroca
do tempo da Copa Roca
que muita gente não viu
Do progresso tão abrupto
que todo mundo assistiu
porém político corrupto
o rato que sai da toca
Ora! Esse sempre existiu!


Sou do tempo em que Benjor
se chamava Jorge Bem
A carne do bife era acém
ração de cachorro era bofe
No meu tempo não havia estrogonofe.


Sou do tempo do tostão e do vintém
da zona com seus bordéis
programas de dez mil réis
Sou do tempo da Cibalena e do Veramon
Só não vi a revista Fon-fon
Assisti filmes do Rin-tin-tin.


Sou do tempo da confeitaria Manon
da magia, do pó de pirlimpimpim
Colecionei estampas Eucalol
Acompanhei o lançamento da Avon
tomei o fortificante Calcigenol.


Sou do tempo da PRK 30
do rádio tipo capelinha
dos contos da Carochinha
do remédio anunciado
"Veja ilustre passageiro
o belo tipo faceiro que o senhor tem a seu lado
Mas, no entanto, acredite, quase morreu de bronquite,
salvou-o o Rhum Creosotado".


Sou do tempo da Cafiaspirina
da compressa de antiflugestina
do bálsamo de benguê
Fui leitor do almanaque Tico-Tico
tempo em que trabalhador ficava rico


Sou do tempo da Casa Cave
do taco com cera Parquetina
dos discursos do Presidente Gegê.
Sou do tempo do óleo de linhaça
Andei na Maria Fumaça
Li muito a revista Cruzeiro
Escrevi com caneta- tinteiro
Separei o joio do trigo
Vi muito vigarista na cadeia
Só não fui garçom da Santa-Ceia
Porque não sou tão antigo.