Blog

Blog

13 de dez. de 2010

A manhã é minha namorada!...


Foi hoje, quando acordei que notei a presença da manhã...

Olhei-a nos olhos azuis, tão claros e sem nuvens,
e ao meu olhar surpreso e deslumbrado
um mundo novo de repente se revelou na luz macia e diáfana...
Emocionei-me como um menino, e revivi a perturbação
do primeiro encontro com a namorada...

Interessante!  Mas só hoje reparei na manhã que chegou...

E notei que ela veio sorrindo nas papoulas e nas rosas
vermelhas
estonteando enxames de abelhas,
- e tinha nas faces coradas
um ar de colegial em férias...

Nas tranças verdes da manhã, vinham duas borboletas
de asas coloridas
correndo doidas atrás dela...

Só hoje eu reparei na manhã, quando ela chegou
com o seu odor estranho
de corpo de adolescente depois do banho,
toda vestida de gazes transparentes e vaporosas.. .
E reparei nas suas formas redondas, e reparei nos seios duros e fortes
vestidos de alvas neblinas luminosas...

Só hoje eu reparei que apesar das tranças verdes das folhagens
e de seu ar infantil de instinto e de pureza,
a manhã já não é menina
a manhã já é moça nas suas formas redondas...

Eu vi os seios da manhã tremendo nos frutos maduros
que ninguém provou,
eu vi no colo da manhã um colar de contas brilhantes
cor do dia,
e adivinhei o mistério do corpo virgem da manhã
na mataria espessa que veste a montanha e que a noite orvalhou. . .

E eu ouvi a voz musical da manhã, na alegria distraída das águas
cantarolando sozinhas,
e vi a manhã correr de pés descalços nas ondas
andando sobre o mar...

Eu abri a janela, e a manhã veio correndo me espiar,
veio do céu e da terra,
veio do ar,
a manhã menina e moça de alma de náiade pagã...

E eu, louco poeta incorrigível,
me apaixonei pela manhã...

Ela entrou no meu quarto trêfega e contente
e com seus dedos de sol tocou nos vidros e nos metais,
mexeu em tudo que viu
e espiou para os lençóis da minha cama desfeita...

Depois... fugiu...
Lá se foi pelos caminhos com as mãos cheias de pássaros,
levada pela a aragem numa doida correria,
rasgando o seu vestido
de galho em galho...
(E as contas de seu colar espatifando-se no espaço
eram gotas de orvalho...)

Hoje eu me apaixonei pela manhã,
senti até no meu corpo o contato do seu
num estranho calor,
e debrucei-me à janela para confessar à manhã
o meu amor...

Será que a manhã ouviu minha declaração?
Lá se foi ela a correr, luminosa e feliz, sonora e inquieta,
sem me dar confiança...

Será que a manhã já é moça... ou será que a manhã
ainda é criança?