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14 de dez. de 2010

Quero te falar de amor!...


Sonhei fazer-te minha só: - rainha!
Quiseste ser apenas cortesã.
E o desejo a crescer, - planta daninha-
foi tornando este amor sem amanhã.

Para mim, não bastava seres minha;
quis no céu, por a estrela da manhã,
e acabei por moldar-me ao que convinha
a essa tua paixão de terra chã.

Se não deste valor ao coração,
mas aos sentidos, em que se consomem
restos de um erotismo em combustão,

Por que falar de amor? Foste lograda;
tu não tens aos teus pés o amor de um homem,
tens um fauno de rastros... e mais nada!

Não compreendias, quando o ciúme
num egoísmo de amor te acompanhava,
mas, por que não dizer? punha perfume
na ternura que em nós desabrochava...

O amor é uma arma de afiado gume
que, se cortava a ti, a mim cortava,
- que tu cegaste, e agora se resume
em desejo somente, fumo e lava.

Lava que escorre, e que destrói aos poucos...
E se os mais belos sonhos se consomem
nesses anseios cada vez mais loucos,


por que falar de amor? Foste lograda:
tu não tens aos teus pés o amor de um homem,
tens um fauno de rastros... e mais nada!


Se era preciso ser assim ferido
para ter-te em meus braços e em meu leito,
e sofrer tudo o que já foi sofrido
e aceitar tudo o que já está desfeito...


Se era preciso, para ser querido,
ver também, rudemente contrafeito
o coração de ciúmes corrompido
em silêncio, a chorar, dentro do peito!


Se era preciso destruir-me tanto
nesses desejos em que se consomem
os restos de um orgulho que foi canto,
por que falar de amor? Foste lograda:
tu não tens aos teus pés o amor de um homem,
tens um fauno de rastros... e mais nada!