Uma crônica portuguesa, com certeza!
Waldeban Medeiros
Era considerado um tremendo marialva!
Sentado na esplanada, acenou ao empregado de mesa e pediu uma cerveja de pressão e como acompanhamento, uma punheta de bacalhau. Degustando, lembrou-se de comprar uma prenda para comemorar do aniversário da Maria, linda cachopa dona de um rabiosque pra ninguém botar defeito, que há muito tempo vinha tentando conquistá-la. O que ele não sabia é que a mesma era um tanto pirosa.
Saiu da esplanada rapidamente, entrou numa dessas lojas “pronto a vestir”, comprou um fato de banho e saiu pussidônio de que levava a prenda mais bonita e interessante .
Aparcou seu carro e dirigiu-se ao seu andar. Ligou o atendedor automático e escutou:
-Está lá, cá quem fala é Maria! Conforme promessa, estou te dando uma apitadela. Espero-te lá pelas nove ao pé da estátua do marquês de Pombal. Vens logo, pois o dia se arrefece muito rápido.
Não restavam dúvidas – pensou ele – atempadamente a Maria havia decidido dar uma queca com ele. Valeu a espera! Completou seus pensamentos.
Saiu feito um parvo que nem sequer chegou a notar a passadeira e quase foi atropelado. Engatou marcha-atrás para tirar seu carro do estacionamento e partiu em disparada, rumo ao tão esperado encontro! Deparou-se com um grande embotalhamento. Irritou-se com a bicha de autos, o trânsito estava condicionado. A estrada se encontrava em beneficiação devido a uma horrível buzaranha acontecida no dia anterior que havia destruído tudo, inclusive derrubando algumas árvores.
Ficou especado! As horas passavam–se céleres. Não chegaria a tempo para o encontro! Sua aparência era de alguém que tivesse levado um estalo na cara! Além do mais, para seu estorvo, o carro que conduzia começou a grilar. Num repente, abandonou o carro sabendo que o mesmo poderia ser arrastado pela grua. Tomou o primeiro elétrico que passou! Sua fisionomia era a de um chalado com a cara de um Charlô. Precisava chegar a esse encontro de qualquer maneira!
Bem defronte à estátua de marquês de Pombal, local do encontro, havia uma grande esplanada. Ávido, sentou-se e ouviu do empregado de mesas:
- A senhoria fez a marcação?
- Ora, pois! Não amola! Me traga uma espirituosa com água lisa ou vá dar de corpo! – respondeu deseducadamente, com grande estardalhaço.
Às páginas tantas, compreendera que tinha perdido o encontro com a Maria, pois já se passavam quinze minutos das seis horas. Começou a passar dos carretos com esta realidade, imaginando a Maria nos braços de outro, nomeadamente se for nos braços de um desses caras peneirentos, pois a Maria não era lá de tanta confiança.
Tomou mais duas espirituosas, acendeu discretamente uma ganza e meditou, quase filosofando:
- Onde já se viu um cabeça arrumada como o gajo aqui, ficar cadela por causa de uma cachopa qualquer?
Porém, seu maior drama era o medo de ficar cabrão, tormento que não lhe saia da cabeça. Afinal, chegara a conclusão de que o encontro redundara num enorme falhanço com fortes indícios de que havia perdido toda a ponta pela Maria, alimentado pela dúvida atroz que atormentava o seu juízo: não sabia se dava outra hipótese pra cachopa ou se aplicava uma tremenda tareia nela.
(Escrito com auxílio da 8ª edição do livro de Mário Prata, “Dicionário de Português - Schifaizfavoire” – Editora Globo – 1993)
Dicionário de Termos Utilizados
Às páginas tantas – a certa altura
Chalado – doido
Grua – reboque, guincho
Ao pé da estátua... – significa ao lado
Charlô – o personagem Carlitos
Hipótese – chance
Água lisa – água sem gás
Condicionado – engarrafado, congestionado
Marialva – conquistador
Bicha – fila
Andar – apartamento
Dar de corpo – cagar
Marcha-atrás – marcha a ré
Aparcar – estacionar o carro
Elétrico – bonde
Nomeadamente – principalmente
Atendedor automático – secretária eletrônica
Embotalhamento – engarrafamento
Passadeira – passagem de pedestre
Apitadela – telefonema
Especado – parado, imóvel
Passar dos carretos – perder a paciência
Arrefecer – esfriar
Empregado de mesas – garçom
Peneirentos – vaidoso, metido a besta