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29 de jul. de 2011

Magnetismo humano

Quem leu reportagem de hoje sobre um estudo que levanta a possibilidade de humanos terem um tipo de percepção magnética pode ter sentido falta de ouvir o que Robin Baker, biólogo que cunhou a hipótese na década de 1970, tem a dizer sobre o assunto.
Pois aqui vai. Conversei com o cientista nesta manhã, e ele se disse surpreso com a possibilidade de outros pesquisadores reavivarem suas pesquisas. Baker, que teve sua reputação abalada por problemas nos resultados de seus experimentos, diz que nunca duvidou de seu trabalho.
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FOLHA - Os experimentos que o sr. conduziu nas décadas de 1970 e 1980 acabaram não sendo bem aceitos pela comunidade científica. Agora, uma revista prestigiada publica com destaque um novo estudo pedindo a reavaliação da hipótese. O que aconteceu no meio dessa história?


ROBIN BAKER - Eu passei dez anos testando a sensação magnética usando milhares de voluntários sob todo tipo de condição, essencialmente tentando expor humanos aos experimentos que haviam demonstrado com sucesso a magnetorrecepção em outros animais. Os resultados foram acachapantes. Apesar de algumas pessoas alegarem não terem conseguido replicar meus resultados, cada uma delas usou apenas uns poucos voluntários, em uma série de testes sem muito comprometimento. Eu mostrei que, quando se soma todas as diferentes tentativas de reprodução em uma meta-análise, seus resultados também são favoráveis. Ainda assim, ninguém parecia preparado para acreditar em meus resultados ou nos deles próprios. A essa altura, eu desisti, mudei minha linha de pesquisa para o “Sperm Wars” [livro sobre evolução do sexo], e em 1996 troquei de vez a academia por uma carreira de escritor. Pelo que eu sei, nada mais aconteceu até aparecer na “Nature” esse estudo sobre os criptocromos [proteínas sensíveis ao magnetismo].

O sr. acredita que seus estudos anteriores precisavam do apoio de trabalhos como este, usando biologia molecular?


Eles não precisariam dessa nova evidência porque, na verdade, um estudo pequeno sobre um composto químico em animais prova muito pouca coisa. Seria mais correto dizer que esse novo estudo precisa de pesquisas como as minhas, mostrando que humanos possuem sentido magnético, antes de seu resultado significar alguma coisa. Mas nunca se sabe. Pode ser que justamente esse estudo faça a diferença. Acho que uma das coisas que atrapalharam a aceitação das pessoas à realidade da magnetorrecepção 20 anos atrás foi a ausência de um receptor químico óbvio. Então, talvez ironicamente, esses novos resultados talvez sejam suficientes para virar o jogo em relação à credibilidade. Eu ficaria fascinado em ver isso.

Mas muitas observações em biologia são aceitas pelos cientistas sem que haja uma explicação imediata. Por que não foi este o caso com a magnetorrecepção?


Sabe de uma coisa? Eu não tenho a menor idéia. Eu provei minha alegação além de qualquer dúvida. E, coletivamente, ainda que não individualmente, meus críticos tinham replicado meus resultados. Mesmo assim, não queriam aceitar a realidade da magnetorrecepção. No final, concluí que, por alguma razão, meus oponentes simplesmente não queriam acreditar que eu tinha descoberto algo novo. Não havia nada mais que eu pudesse fazer para convencê-los.

Escrito por Rafael Garcia