Roberto Carlos - Recordações
Música gravada por Roberto Carlos em 1982. Recordações... Pra que ficar falando só pra mim Se nessa casa já não tem ninguém Só tenho ao meu redor ...
Desde 1º de janeiro de 2000, segundo o Ministério da Justiça, foram registrados 1.203 desaparecimentos no País – 644 foram solucionados, 559 seguem em investigação. Se esses números representam apenas uma fração da quantidade real de pessoas sumidas – e desconsiderando as centenas de desaparecidos políticos –, são mesmo muito poucos os casos que, para o bem ou para o mal, ganham repercussão nacional. A ampla divulgação nem sempre é garantia de sucesso na busca por quem se perdeu de vista, e algumas das histórias que pautaram as conversas e causaram comoção pelo País seguem sem solução.
Desaparecido desde 2 de agosto de 1973
Carlos Ramires da Costa foi sequestrado aos 10 anos, no Rio de Janeiro de 1973, enquanto assistia TV com quatro irmãos e sua mãe, Maria da Conceição. A luz foi cortada, e um jovem invadiu a casa para levar o caçula. Deixou um bilhete indicando horário e local para que um resgate de Cr$ 100 mil fosse deixado em troca do menino. A imprensa publicou na íntegra o documento, o que atraiu repórteres e curiosos para o resgate, mas não o sequestrador.
O vasto time de suspeitos detidos incluiu funcionários de uma clínica médica (com o sequestro, estariam forçando os pais de Carlinhos a venderem para a clínica o terreno em que moravam); pessoas que deviam dinheiro ao pai de Carlinhos, João Mello; um ex-agente da Polícia Judiciária e um estelionatário (estariam se vingando por terem sido lesados por João); Abel Alves da Silva, colega de João; e os próprios genitores da criança. O caso foi marcado também por eventos excêntricos. Um servidor da Petrobras ofereceu os próprios filhos para compensar a perda da família. Um homem telefonou para a polícia prometendo devolver Carlinhos em um dos portões do Maracanã, o que não se efetivou.
O afã por resolver o caso levou um agente a se disfarçar de mulher em diligências, ser afastado da polícia, continuar investigando por conta própria e, enfim, ser assassinado, vestido de mulher, durante investigações. A lavadeira que trabalhava na casa de Carlinhos foi submetida ao pau-de-arara para delatar um ex-amante, que também acabou torturado para confessar o sequestro. Uma colega de João foi constrangida a confessar publicamente a autoria intelectual do crime para que Abel, seu suposto comparsa, aparecesse com o menino, em outro insucesso policial. Uma coletiva de imprensa chegou a ser marcada para anunciar João como culpado – pobre, ele estaria em busca de donativos da população –, mas seu delator confessou, às vésperas da reunião, que havia mentido. Mentira que rendeu uma prisão sem provas e a morte de um salva-vidas, atingido por um raio ao mergulhar em alto-mar para procurar o corpo de Carlinhos.
Um inquérito tardio apontou contradições na conduta de João, mas Maria era suspeita por demonstrar excessiva vaidade diante das autoridades e desapego com os filhos. Ela pretenderia levar sua criança preferida em uma fuga com um amante, mas, com a repercussão do caso, o homem teria abandonado o plano e o menino. Separados, João e Maria passaram a incriminar um ao outro. Ele buscou a orientação de um vidente na Holanda. Ela julgou ter reconhecido Carlinhos em 2004, mas um exame de DNA atestou que Carlos Alberto de Souza não era seu filho, que nunca reapareceu.'
Desaparecida desde 04 de junho de 2010
A aparente conciliação já era descartada quando a polícia recebeu, 20 dias após o desaparecimento de Eliza, denúncias de que ela havia sido espancada até a morte no sítio. A mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues do Carmo Souza, foi encontrada no local, mas negou que estivesse com o filho do atleta, com 4 meses na época. O bebê foi encontrado no dia seguinte, em Ribeirão das Neves, supostamente deixado com uma adolescente por amigos do goleiro.
Enquanto seguiam as buscas, o primo de Bruno, então com 17 anos, relatou que Eliza foi mantida em cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a teria estrangulado e esquartejado antes de jogar seus restos mortais para os cães. Apesar de buscas intensas no sítio e na casa de Bola, onde os restos mortais de Eliza teriam sido concretados, tudo o que foi encontrado foram gotas de sangue no carro de Bruno.
Bruno e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão, se entregaram à polícia, que indiciou os suspeitos e apontou o goleiro como mandante e executor do crime. Além dos oito presos inicialmente, a investigação apontou a participação de uma namorada do jogador, Fernanda Gomes Castro. O Ministério Público ofereceu denúncia à Justiça, que tornou réus todos os envolvidos. O primo de Bruno, Sérgio Rosa Sales, foi condenado e cumprirá medida socioeducativa de internação por prazo indeterminado.
Ainda em 2010, Bruno e Macarrão foram condenados por sequestro e agressão a Eliza em 2009. O goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão por cárcere privado, lesão corporal e constrangimento ilegal, e seu amigo, três anos de reclusão por cárcere privado. Os dois, junto a Sérgio e Bola, serão levados a júri popular por homicídio triplamente qualificado, sendo que o último responderá também pela ocultação de cadáver, jamais encontrado.'
Desaparecida desde 14 de junho de 2008
Na madrugada de 14 de junho de 2008, a engenheira Patrícia Amieiro Franco, 24 anos, dirigia na autoestrada Lagoa-Barra, voltando de uma casa de shows no morro da Urca, no Rio de Janeiro. Seu veículo saiu da pista, caiu de duas ribanceiras e foi recebido pelas pedras às margens do canal de Marapendi, na Barra da Tijuca. Porta-malas aberto, vidro lateral estilhaçado, uma pedra de cerca de 10 kg nos pedais, nenhum vestígio de sangue, cinto afivelado sobre um assento rebaixado e sem ocupante.
Dois policiais militares escalados para trabalhar à noite no local foram os primeiros a encontrar o automóvel e levaram 15 minutos para acionar o Corpo de Bombeiros. Os sapatos, o relógio e as pulseiras de Patrícia foram recolhidos das águas, misteriosamente desgarrados do corpo desaparecido da jovem.
A Divisão Antissequestro da Polícia Civil assumiu o caso após terem sido constatadas perfurações de bala na lataria do carro e deu lugar à Delegacia de Homicídios depois de a hipótese de sequestro ser descartada – nenhum criminoso jamais entrou em contato para negociar o resgate.
Entre as hipóteses levantadas esteve a de que Patrícia não teria parado em uma blitz, o que teria motivado os tiros. Os militares alegaram que ela seguia em alta velocidade pela autoestrada. Em junho deste ano, a Justiça decretou a morte presumida de Patrícia, a pedido do pai da engenheira. “A única dúvida que permanece com relação a esta tragédia é saber onde se encontra o corpo de Patrícia, visto que o óbito é indiscutível”, proferiu a juíza Flávia de Castro.
Os PMs Marcos Paulo Nogueira Maranhão e Willian Luis do Nascimento (de cuja arma teriam partido os tiros, segundo o Instituto de Criminalística Carlos Éboli) respondem em liberdade por homicídio, ocultação de cadáver e fraude processual. Os militares Fábio da Silveira Santana e Márcio Oliveira dos Santos, que também atenderam à ocorrência, estão livres e respondem por ocultação de cadáver e de provas. Todos foram inocentados em inquérito da corregedoria da corporação. '
Desaparecido desde 21 de junho de 2008
O tempo de desaparecimento de Lucas Pereira já anuncia equivalência com a idade que o menino tinha na manhã em que ele foi visto pela última vez, nos arredores da casa da avó, em São Carlos, no interior de São Paulo. O pai, um engenheiro da Petrobras, logo ofereceu pelo filho recompensa de R$ 30 mil, depois dobrada para R$ 60 mil, medida não autorizada pela polícia que atraiu tantas informações que, hoje, não há quase nada de confiável que possa ser dito sobre o caso.
Um homem foi preso na Bahia ao tentar extorquir a família. Falsas pistas e falsos sequestradores ludibriaram a polícia. Informações equivocadas ganharam o impulso das correntes de e-mail não só no Brasil, mas também em países como Argentina e Venezuela, onde Lucas Pereira foi batizado de “Ricardo Sanchez”. Sites divulgaram contatos telefônicos inexistentes e premiaram um “Laércio Garcia” com a paternidade da criança, cujo pai verdadeiro sempre se chamou Antônio Carlos Ratto.
Separada de Antônio, a mãe de Lucas, Marcelene Érika, chegou a ser tratada como suspeita. Usuária de drogas, Marcelene teria dívidas com o tráfico. Ela rebate a acusação dizendo que apenas consumiu crack com amigos em um momento de fragilidade. Em junho do ano passado, o ex-titular da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) Geraldo Souza Filho disse à Folha de S.Paulo que tinha “muitas informações sobre o caminho que ele (Lucas) fez desde que sumiu”, mas que não podia revelá-las. “A história é surpreendente e absurda. Quanto tudo vier à tona vai ser um choque”, completou. Um ano depois, a história não apenas não veio à tona, como a DIG, sem rastros de Lucas, considerou esgotadas as investigações.
Em entrevista ao Terra, o atual titular da DIG, Edmundo Ferreira Gomes, negou que o caso tenha sido arquivado. “O inquérito prossegue. Uma denúncia recente, de um presidiário, dá conta de que o menino está em Ribeirão Preto, mas a informação não foi confirmada, e às vezes as pessoas são oportunistas”, disse o delegado, evitando o otimismo. “Tudo o que temos são conjecturas. O que eu afirmar agora será leviano. Foram checadas todas as informações à época (do desaparecimento). Investigação é como medicina: são feitas todas as intervenções necessárias, mas elas não prometem a vida. Prometem um trabalho desenvolvido segundo uma técnica”, pondera Gomes. '
Desaparecida desde 2006
O título de Miss Brasil 2002 chegou tarde para as pretensões de Taíza Thomsen. A catarinense só vestiu a faixa depois de a vencedora do concurso, a gaúcha Joseane Oliveira, perder o título ao confessar que já havia casado – o que é contra as regras do concurso. Taíza, entretanto, nunca vestiria a fama nem a carreira de atriz com que sonhava. Depois de magros dois meses como Miss Brasil e de muitas portas fechadas, ela se viu atendente de loja.
Em janeiro de 2007, os pais da modelo foram à Polícia Federal informar que a jovem havia desaparecido. Desde setembro de 2006, quando ela encerrou um telefonema com a mãe decretando que não voltaria para casa, nada se soube da ex-miss, que estaria trabalhando como stripper em casas noturnas de Londres.
Uma mulher contatou a PF meses depois, se identificou como Taíza e disse que não queria ser encontrada nem mesmo pelos pais. A Interpol e a Scotland Yard entraram nas investigações quando a suspeita de que Taíza seria vítima de tráfico sexual ganhou força, mas o caso foi encerrado com a conclusão de que a jovem havia se isolado do Brasil por opção.
Um proprietário de boate indicou que a brasileira teria ido para Bruxelas, na Bélgica, e um ex-namorado polonês cogitou a Escócia como paradeiro possível. Nada confirmado. Mesmo os seus escassos contatos com a polícia e com jornalistas em 2007 são colocados sob suspeita. Naquele mesmo ano, uma liminar da Justiça proibiu um jornal catarinense de vincular o nome de Taíza ao de um ex-prefeito de Joinville, de quem ela teria sido amante. De todo modo, ainda que se amarre o sumiço de Taíza a nomes ilustres e a outros tantos perigosos, o que resta são hipóteses abandonadas, difusas, adjetivos que a ex-miss parece querer para si.'
Desaparecida desde 9 de janeiro de 2004
Em 9 de janeiro de 2004, Priscila Belfort, 29 anos, foi levada para o trabalho pela mãe, que a deixou no centro do Rio de Janeiro. A irmã do lutador Vitor Belfort desapareceria horas depois, ao deixar a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer para o almoço. A notoriedade do sobrenome foi usada a favor de uma grande campanha para estimular a população a reconhecer Priscila. Segundo a família, a universitária sofria com lapsos de memória, mas nunca havia desaparecido.
O Disque-Denúncia ofereceu recompensa de R$ 10 mil por informações que levassem ao esclarecimento do sumiço da cunhada de Joana Prado. Após centenas de telefonemas que não levaram a polícia muito longe, Elaine Paiva confessou, em agosto de 2007, ter participado do sequestro e do assassinato de Priscila, que teria, junto do namorado, uma dívida de cerca de R$ 9 mil com um casal íntimo de um traficante preso em Bangu I. Segundo Elaine, o casal credor pediu para que o criminoso “pressionasse” Priscila, mas desistiu de cobrar a dívida depois de a vítima já ter passado três meses em cativeiro e visto o rosto de todos os seus sequestradores, que decidiram, então, matá-la.
A polícia não encontrou nada na área apontada por Elaine como o local onde Priscila foi enterrada, mas um lavrador disse ter achado um crânio na região e o vendido para um motociclista. A cabeça humana foi, enfim, deixada ao lado de um orelhão pelo homem, um professor de informática que disse à polícia ter se livrado do crânio por pressão da mulher.
Exames de DNA negaram que o crânio fosse de Priscila e colocaram em xeque a versão de Elaine, cujos telefonemas, investigados sob autorização judicial, não incluíam uma ligação para Priscila no dia do sumiço da estudante, como a confissão alegava. Ainda em 2007, o namorado da funcionária pública disse ao Linha Direta acreditar que Priscila “foi para algum lugar com as próprias pernas”, versão que não recebe crédito da família.'
Desaparecida desde 9 de maio de 2011
À polícia, não restam dúvidas de que a modelo Luana Rodrigues de Sousa, 20 anos, foi morta na favela da Rocinha, zona sul do Rio de Janeiro. Mesmo sem o corpo da jovem, a família celebrou missa de sétimo dia em lembrança de Luana, que saiu de casa, na Estrada das Canoas, em São Conrado, com uma amiga de 25 anos, para não retornar mais.
Luana tem um filho de 2 anos com um morador da favela, mas mantinha relacionamento amoroso com um policial militar, o que teria contrariado os líderes do tráfico, já que Luana seria responsável pelo transporte de drogas de uma comunidade a outra. Ela teria indicado ao militar a casa do ex-namorado como o local onde estavam armazenadas 2,6 t de maconha, apreendidas em abril pela Polinter.
Em 29 de junho, o delegado da Divisão de Homicídios, Felipe Ettore, disse que o desvio de uma carga de haxixe no valor de R$ 30 mil motivara o assassinato de Luana. A droga pertenceria a um traficante do morro de São Carlos, cuja comunidade, antes de ser pacificada, era dominada pela mesma facção que controla o comércio de entorpecentes na Rocinha. Para Ettore, Luana e a amiga foram julgadas e condenadas por um 'tribunal do tráfico' chefiado por Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. Em buscas que mobilizaram 130 agentes, a polícia chegou a encontrar três ossos humanos em diferentes pontos da mata na Rocinha, além de um local que abrigaria um 'micro-ondas' (execução na qual corpos são carbonizados com pneus queimados), mas não foi comprovado que a ossada era de Luana.
Cinco mandados de prisão foram expedidos – contra Nem, Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, Tiago de Sousa Cheru, o Dorey, Rodrigo Belo Ferreira, o Rodrigão, e Ronaldo Patrício da Silva, o Ronaldinho – por homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e impossibilidade de defesa da vítima, além de ocultação de cadáver. Pouco depois do suposto crime, Nem promoveu uma grande festa para comemorar o seu aniversário de 35 anos. Desde que Nem assumiu o domínio das bocas de fumo da Rocinha, em novembro de 2005, pelo menos 18 pessoas desapareceram. A maior parte dos casos deu origem a inquéritos abertos pela polícia, mas as vítimas jamais foram localizadas.