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2 de mar. de 2012

10 terríveis letras de música escritas em língua portuguesa


 10 terríveis letras de música escritas em língua portuguesa


Eu sou capaz de apostar um dos membros do Puxa que, assim que vocês chegarem ao fim dessa lista, vão dizer “não acredito que ele não colocou a…” e isso é um ótimo sinal. Um ótimo sinal de que a música brasileira vem produzindo lixo a todo vapor, e que para cada Chico Buarque, nós temos, no mínimo, 72 Bondes dos Melados.

Abaixo, então, minha contribuição humilde para catalogar esse grande duto de estação de tratamento de esgoto que invade nossas rádios e televisões todos os dias. Com vocês, as dez piores letras de música da história brasileira. 

Nota: não quis usar nenhum funk nessa lista de músicas, porque é uma lista de músicas, não de jingles de armamentos.

 Rick e Renner - Moleca

Cometida por Waldir Luz e Yonara Nascimento

Sobre o que trata? É sobre uma garota que dança lascivamente, como todas as outras mulheres representadas na música sertaneja.


O que há de tão ruim na letra? É difícil imaginar alguma coisa que seja mais ofensiva e chovinista do que as coreografias do axé music, mas os compositores de “Moleca” acordaram um dia imaginando que podiam dar um passo adiante no terror, e aí criaram uma música que ao invés de apenas inventar mais uma posição erótica, prefere citar todas as que já existiam em uma única música! Acompanhe:
Gruda, gruda na cintura da moleca
Reboladeira fica louca pra dançar
Gruda, gruda na cintura da moleca
Faz trenzinho, faz boneca e deixa o corpo balançar.
Depois do mexe-mexe, rala o tchan e rala a tcheca
Eu tô grudado na cintura da moleca
Remexe pra cá, remexe pra lá
Eu quero ver seu umbiguinho suar
Remexe pra cá, remexe pra lá
Só no sapatinho até o dia clarear
Não é fácil escrever uma música ruim que faça citações a outras músicas ruins, mas “Moleca” vence o desafio, e menciona É o Tchan! (“rala o tchan!”), Gera Samba (“rala a tcheca”) e – isso é aterrador – até aquele grupo de pagode do filho do Zico! (“Só no sapatinho”)


Neguinho da Beija-Flor - Mulher, mulher, mulher (idéia fixa)

Cometida por Neguinho da Beija-flor e Murilo Rayol

Sobre o que se trata? Considerando a hipótese de que o blog seja visitado por pessoas com 4 pontos de QI, uma explicação breve: é uma música sobre mulheres.


O que há de tão ruim na letra? Vamos fazer a ressalva logo de cara: é evidente que essa música não foi gravada a sério, mas isso não a exime de ser uma coisa absolutamente sem cabimento. Dá para imaginar a cena: cerveja vai, cerveja vem, o Neguinho da Beija-flor olha uma mulata e diz assim: “Rapaxxx, melhor que uma mulher, só duaxxx mulherrr” e aí alguém responde “aê, isso dá samba!” – no Rio de Janeiro, ninguém diz um negócio desses só por dizer.
Melhor que uma mulher
Só dez mulher
Melhor que dez mulher
Só mil mulher
Mas aí bateu aquela preguiça depois do churrasco, e ficou a dúvida: como fica o resto da música? “A h, escreve qualquer coisa!”, alguém deve ter falado, e aí não se deram nem ao trabalho de ir buscar outra palavra fora do refrão! Para as estatísticas: a palavra “mulher” é repetida 98 vezes, ou seja, a música é a “Volta o cão arrependido” do samba carioca.


Roupa Nova - Whisky a go-go 

Cometida por Michael Sullivan e Paulo Massadas

Sobre o que trata? É uma música sobre cinco tiozões tentando pegar uma menininha mencionando uma outra música, da época que nem a mãe dela tinha nascido.


O que há de tão ruim na letra? Primeiro, precisamos pensar o que há de tão ruim no Roupa Nova: é uma banda que já nasceu com 35 anos de carreira e todo ano lança uma coletânea de sucessos, sem que ninguém jamais tenha visto um disco original deles. Seus integrantes parecem todos funcionários de pizzaria rodízio e, acima de tudo, suas canções tem firma reconhecida do capeta para grudarem na cabeça.
Eu perguntava Do You Wanna Dance?
E te abraçava Do You Wanna Dance?
Lembrar você
Um sonho a mais não faz mal
O que alça Whisky a go-go a posição de pior música do Roupa Nova, em seu vasto repertório que inclui a canção mais pega-rapaz da história – “A Viagem”– é sua completa cafonice. Fale dessa música para sua mãe, e ela na certa irá usar palavras como “bailinho” para contar da época em que conheceu seu pai. Além do mais, o refrão é um achado na arte de ser um maníaco: perguntava, te abraçava, e o verso seguinte deveria ser “apertava sua bunda – do you wanna dance?”.

Em tempo, se na sua formatura não tocar “Whisky a Gogo”, desconfie; talvez seu curso não seja reconhecido no MEC e seu diploma não tenha valor.


Sandy e Junior - Imortal

Composição original de Barry Gibb, versão em português de (isso não é piada nossa) Feio

Sobre o que se trata: sobre ganhar um dinheiro fácil, aproveitando uma música de sucesso internacional que já estava pronta.


O que há de tão ruim na letra? É essa pérola da redundância “O que é imortal não morre no final”. Não que a versão original dos Bee Gees seja grande coisa – até porque ela é cantada pela Celine Nariz de Pokemon Dion – mas aqui no Brasil simplesmente cruzaram nuns 5km o limite do ridículo.
O que é imortal
Não morre no final
E se distante é assim...
Isso não vai ter fim
Nem que eu quiser você sai de mim
Eu já tentei mas te esquecer assim... não dá…

Quem escolheu fui eu
E tenho que aceitar
Mas não foi erro meu, você no meu lugar
Faria exatamente igual
Se redundância é o charme do melhor verso, a incoerência é o de todos os outros: foi a Sandy quem escolheu, mas não foi erro dela, o cara faria o mesmo, mas ele não sai dela, e isso não vai ter fim, porque ela tem que escolher entre ela e perder o cara… diante de tal complexidade, meus quinze anos na escola me pareceram inúteis de uma hora pra outra.

“Nem que eu quiser você sai de mim” é um pedaço involuntariamente engraçado, só para constar.


 Latino - Festa no Apê

Cometida por O-zone, adaptada e imortalizada em português por Latino

Sobre o que trata? Sobre a tentativa de Latino de atrair a fúria divina contra o Brasil.


O que há de tão ruim na letra? A pergunta verdadeira é a seguinte: o que nós, pessoas de bem, fizemos para merecer isso? “Festa no Apê” nem chega a ser uma música, primeiro porque Latino, em 60% do tempo, apenas declama as frases como se estivesse mamado, o que inclui o sensacional comunicado de que “no meu quarto tem gente até fazendo orgia”. Depois, a canção evidencia a concepção de rima que Latino tem: são duas palavras que se parecem no finzinho, e o que quer que envolva seu uso, seu significado ou seu ridículo são questões irrelevantes.

Latino foi o cara que cunhou a expressão “bunda-lelê”, porque não tinha nada que rimasse com “apê/aparecê”. Mas, no fim, talvez o inventor do bigode motoboy seja um gênio incompreendido, porque a música original – Dragostea Din Tin, em romeno – já era um primor de bobagem incompreensível, e transformá-la numa coisa que você possa ouvir e ter vergonha em português não é pouca coisa.


Grupo Cafuné - Melô do Pirulito

Cometida pelo Capeta em pessoa

Sobre o que trata? Sexo oral. Não tem nem o que discutir.


O que há de tão ruim na letra? Escolhi “Melô do Pirulito” para essa lista como a embaixadora de todas as canções pervertidas do axé music, sendo o vice do cargo a grotesca “Pinto do meu pai”, aquele que fugiu com a galinha da vizinha. Todos os grupos que cantavam bobagens desse tipo afirmavam que estavam brincando com a malícia e o duplo sentido nas letras. Por favor, leiam isso aqui:
se for marronzinho, é de chocolate
se for branquinho, é de netinho
se for grandão, do ricardão

e voce pode chupar que lambuza a sua boca

A menina com o pirulito na boca
ela vai descendo até o chão
Eu não consigo entender: onde está o duplo sentido desses versos?? São seis linhas sobre sexo oral, tamanhos de pênis, espermatozóides e adultério – não tem outra interpretação cabível! A única explicação para essa música ser de duplo sentido é se ela falar sobre sexo oral e ser, no fundo, uma metáfora sobre pirulitos.


Frank Aguiar - Morango do Nordeste

Cometida por Walter dos Afogados

Sobre o que trata? Sobre hortifrutis.


O que há de tão ruim na letra? “Morango do Nordeste” tinha potencial para ser tão ruim quanto qualquer outra música melosa feita com base de teclado Cássio, mas ela consegue ir ainda mais longe, primeiro graças a essa metáfora chechelenta de “morango do Nordeste”. Se tem uma coisa que a gente percebe rápido é que as músicas são feitas pelo número de sílabas, não o que signifique cada uma. A outra fruta que dá no Nordeste, com três sílabas, se chama pitomba.

O segundo motivo é esse aqui:
Apesar de colher as batatas da terra
Com essa mulher eu vou até pra guerra
“Apesar de”, assim como cheque pré-datado, é um negócio para ser usado quando você sabe o que vem pela frente. Assim, quando a frase 2 não tem nenhuma relação com a frase 1, você não deve usar “apesar de”; use qualquer outra coisa: aconselhamos que você use “maçarico” ou “papagaio”, porque já deu para sacar que seu negócio é o número de sílabas.


#2 Paquitas - É tão bom

Cometida por uma máquina de sortear bingo

Sobre o que trata? Sobre o fim do mundo


O que há de tão ruim na letra? Oras, são as Paquitas cantando sobre elas mesmas, o que mais pode haver de ruim nessa letra? Porém, por trás da fachada de ingenuidade de seis loiras com roupas de exército em sete de setembro, há a revelação de um terrível plano de dominação mundial:
A gente se multiplicou
E dividimos alegria
A gente brinca de esconder
Nem sempre a gente faz de conta
Um dia a gente vai crescer
Do mundo a gente toma conta
A gente quer o azul do céu
E o sol brilhando com certeza
A gente quer da vida o mel
Tão puro feito a natureza
Viram só, as Paquitas praticamente se declaram como a volta da peste bubônica!

Além do mais, é sempre bom mencionar a segunda coisa mais sem sentido jamais dita em português: “É tão bom, bom, bom, bom / quem quer pão, pão, pão, pão”. Li na internet que a versão original terminava com “É a Marrom, rom-rom-rom”, mas daí a Alcione não tinha espaço na agenda para fazer a gravação.

A primeira coisa mais sem sentido jamais dita em português vem a seguir:


 Margareth Menezes - Faraó, divindade do Egito

Cometida por Margareth Menezes, e cantada pela própria

Sobre o que se trata? Sobre o Egito.


O que há de tão ruim na letra? Não tenho muita certeza por onde começar, então vou pelo óbvio: é óbvio que 85% das palavras de “Faraó divindade do Egito” são aleatórias. O que também é aleatório é como Margareth Menezes concebeu essa loucura: só um efeito borboleta fantástico seria capaz de impedir que, do primeiro rascunho até o lançamento do CD, ninguém parasse e dissesse a ela: “peraí dona, a senhora tá de brincadeira com essa música, né?”.

A parte mais divertida do axé é que eles sempre dão um jeito de enfiar um momento “joga a mãozinha para cima” nas músicas. Assim, não importa paçocas se você está falando sobre divindades cósmicas antropomórficas de Saturno, é só esticar as vogais e a micareta está garantida.
Eu Falei Faraó
êeeee Faraó
Eu Clamo Olodum Pelourinho
êeeee Faraó
É Pirâmide Da Paz e Do Egito
êeeee Faraó
É Eu Clamo Olodum Pelourinho
êeeee Faraó
Acontece que, mesmo com a absoluta falta de sentido da primeira metade de sua música, dona Margareth Menezes é insaciável, e depois dos egípcios, ela resolve falar dos negros. E aí, quando isso acontece, é a hora de puxar a cachorra.
Despertai-vos Para
Cultura Egípcia no Brasil
Ao invés de cabelos Trançados
Veremos Turbantes de Tutancamom

E nas cabeças
Enchei-se de Liberdade
O Povo Negro pede Igualdade
Deixando de lado as Separações
Ao invés de cabelos trançados, veremos turbantes de Tutancamón, e isso será bem útil para se proteger da nuvem de gafanhotos que Margareth Menezes conjurou com esse trecho.