Vou tentar explicar por que, talvez, não entendamos tanto quanto pensamos. Vou começar com 4 perguntas, e não se trata de uma referência britânica. Aliás, isso foi uma piada interna. Na verdade, essas 4 perguntas são consideradas difíceis até por quem entende de ciência. Já as fiz a produtores de programas de TV sobre ciências, ao público de licenciatura em ciências, ou seja, professores, e a crianças de 7 anos. Notei que as crianças se saíram um pouco melhor que os demais, o que é surpreendente.
A primeira pergunta, e talvez queiram tomar nota em uma folha de papel real ou em um papel virtual, na sua cabeça, e o mesmo para quem está vendo em casa.
Uma sementinha não pesa quase nada e uma árvore pesa muito, certo? Todos concordam. De onde a árvore tira o material que resulta nesta cadeira?
De onde vem tudo isto? (Batidas)
A próxima pergunta: é possível acender uma lâmpada pequena com uma pilha, uma lâmpada e um pedaço de fio?
Saberiam desenhar - não precisam desenhar - um diagrama? Saberiam desenhá-lo se fosse preciso, ou diriam que não é possível?
A terceira pergunta:
Por que o verão é mais quente que o inverno? Acho que concordamos que o verão é mais quente que o inverno, mas por quê?
Finalmente, vocês saberiam -- e podem fazer um esboço -- rascunhar um diagrama do sistema solar, com o formato das órbitas planetárias? Saberiam fazer isso? Se souberem, façam um desenho.
Cuidado com o que põe na cabeça de alguém, pois depois é muito difícil de reverter.
Certo? (Risos) Aliás, não sei como ele morreu. Foi decapitado ou enforcado? (Risos) Certo. Vocês anotaram as respostas, estão conferindo-as e tudo mais. Normalmente eu chamo alguém para humilhar, mas talvez não aqui.
Uma sementinha pesa muito, e tudo isto, 99% disto aqui, é derivado do ar. Garanto que uns 85% de vocês, ou talvez menos no TED, disseram que vem do solo, e alguns, talvez duas pessoas, depois virão argumentar comigo e dizer que deriva do solo. Nesse caso, haveria inúmeros caminhões levando terra para as casas. Seria ótimo. Mas não é assim. Quase tudo isto vem do ar. Na Inglaterra, eu sempre passei em biologia. Tive ótimas notas, mas me formei pensando que isto vinha do solo.
A segunda: dá para acender uma lâmpada com uma pilha e um fio? Dá, sim, e vou demonstrar logo mais. Mas tenho uma má notícia: eu trouxe um filme para mostrar a vocês, mas infelizmente o som não funciona aqui. Então vou relatar, em estilo Monty Python, o que acontece no vídeo. Nele, um grupo de pesquisadores vai a uma formatura no MIT. Escolhemos o MIT por ser bem longe daqui, então não se importariam, mas o resultado é o mesmo na Inglaterra e no Oeste dos EUA. Fizemos essas mesmas perguntas aos formandos em ciências, e eles não sabiam. E muitos deles diziam: "Eu me surpreenderia se isto viesse do ar. Seria novidade para mim." E são cientistas formados. O vídeo fecha com "Somos a melhor universidade do mundo", para fazer uma graça. (Risos) Quando perguntamos a formandos de engenharia, disseram ser impossível. Demos a eles uma pilha, um fio e uma lâmpada e perguntamos se era possível, mas não conseguiram. Aliás, no Imperial College de Londres não é diferente, não estou fazendo campanha anti-americana.
Até parece... Agora, isto é importante pois gastamos muito dinheiro em ensino, e é bom fazermos isso bem. Há também questões sociais para querermos que todos entendam o que ocorre na fotossíntese. Metade da equação do carbono é o quanto emitimos, e a outra metade da equação, como aprendi no Jardim Botânico, é quanta coisa as plantas absorvem, como dióxido de carbono. É disso que as plantas vivem. E, para os finlandeses aqui, um trocadilho finlandês: estamos, literal e metaforicamente, pisando em gelo fino se não entendermos bem isso. E vejam a lâmpada e a pilha. Muito fácil, não é? É claro que vocês sabiam. Mas, se nunca brincaram com isso, se só viram diagramas de circuitos, talvez não soubessem, e esse é um dos problemas.
E por que no verão faz mais calor? Aprendemos na infância que, quando muito perto de algo quente, nos queimamos. É uma lição valiosa que aprendemos muito cedo. Por extensão, pensamos que, se o verão é mais quente, deve ser por causa da proximidade com o Sol. Garanto que a maioria disse isso. Estão balançando a cabeça, mas só alguns a balançam com firmeza. Outros estão fazendo assim... Tudo bem. O verão é mais quente que o inverno pois os raios solares se espalham mais, devido à inclinação da Terra. E não pensem que essa inclinação nos aproxima. O Sol está a 150 milhões de quilômetros e nos inclinamos assim. Não faz diferença. E no Hemisfério Norte nos afastamos do Sol no verão, mas essa diferença é irrelevante.
Quanto ao diagrama do sistema solar, se a maioria acredita que no verão ficamos mais perto do Sol, deve ter desenhado uma elipse.
Não foi? Isso explicaria tudo. E vários concordam. Só que, com essa elipse, já pensaram no que ocorre à noite? Entre a Austrália e os EUA: lá é verão e aqui é inverno, e como é? A Terra corre rumo ao Sol de noite e depois corre para trás? Isso é muito esquisito. Temos dois modelos na cabeça, um certo e um errado, e, como humanos, fazemos isso em todas as áreas.
Modelo de Copérnico do Sistema Solar [Wikipedia] |
As crianças não são vazias. Como diria o Monty Python, e estou chovendo no molhado, mas as crianças não são vazias. Têm suas próprias ideias e teorias, e, se não as trabalharmos, não as mudaremos depois. Assim como não mudei as ideias que vocês tem do mundo e do universo. Isso também se aplica a venda de tecnologia. Por exemplo, a Inglaterra está tentando migrar para a TV digital em toda a população. Mas é difícil, pois há preconceitos sobre o sistema e é difícil transformá-los. Não somos ocos, e nossos modelos mentais da infância persistem na nossa vida. O ensino ruim é muito prejudicial. Nos EUA e na Inglaterra, o magnetismo é entendido melhor pelas crianças antes do que depois de irem à escola. O mesmo para a gravidade. Isso é uma lição para nós, professores. Ver o antes e o depois é preocupante. Após aprenderem, se saem pior nos testes. E nós trapaceamos, criando provas, ao menos na Inglaterra, para os alunos passarem. Os governos se saem bem e se congratulam. Não é? Nós somos coniventes, e se alguém formulasse uma prova, nas minhas aulas de biologia, para ver se eu compreendia de fato, mais do que juntar amido com iodo e constatar que fica azul, se eu entendesse que as plantas tiram massa do ar, talvez fosse um cientista melhor. O mais importante é fazer as pessoas articularem as concepções.
Seu dever de casa: como a asa de uma aeronave cria sustentação? Parece óbvio, e vocês já têm uma resposta, mas a segunda parte é: explique também por que os aviões voam de cabeça para baixo. Haha, certo? Outra pergunta: por que o mar é azul? E todos já imaginam a resposta. Mas por que é azul em dias nublados? Estão vendo? (Risos) Sempre quis dizer isso nos EUA. (Risos) Finalmente, meu apelo a vocês e seus filhos, e a quem conhecerem, é que fucem as coisas. Pois é fuçando as coisas que nós complementamos o aprendizado. Não é um substituto, mas uma parte importante do aprendizado. Muito obrigado. Esperem! Ah, bom... Tudo bem. (Aplausos)
Via BBA