Nosso Pai de grande manto
Que nos olha lá do alto
Agora vê com grande espanto
O que sente a nossa Mãe
Oh, Mãe Terra!
Quantas vezes vivificas teu fruto
Entre divinas lágrimas e luto
Que o filho ingrato destrói
Mãe, teu coração já dói
Vulcão de Amor e Esperança
Da renovada Aliança
Do que é e do que foi
O Fogo Azul se liberta
E amamenta a Criação
Mas o teu filho tem aberta
A sede da destruição
E sem lamento e sem ira
Unindo a desunião
Até quando, Mãe Terra
Até quando teu perdão?
Quanto tempo vai correr
P'ra teu filho à Luz voltar
E de seu Pai receber
A chama eterna de amar?
Se este sonho tão sério
De Amor, Paz a Verdade
Ainda é só um Mistério
Para esta Humanidade!
Conheço um vagabundo de olhos
perdidos e sei que ele
não teme a vida,
a morte ou os perigos
Em suas mãos côncavas de pão, não
sente a esmola e seu
braço estendido tem o
abrir do perdão.
Não sei por onde anda
com sua veste longa e
branca, mas por onde
passa há algo que se
despedaça, sem sentir
a ameaça de sua voz
pura e franca.
Quando regressa traz
um suave vagar que
cheira a semente e a
lírio a desabrochar, é
dele o verde do
campo, a voz do mar, a
brisa do vento
na seara a mondar
Há nele o sol morno,
a quietude de uma
virtude que não ouso
explicar...
Só vejo que a tempestade se
amansa, e até a
serpente descansa
quando o sentem
chegar...
Ele traz consigo o livro
mais antigo, o selo
mais sagrado, e junto
ao peito traz a cruz do
Homem torturado.
Se o encontrares
não temas seus passos,
nem rompas seus
laços, o vagabundo é um
Amigo
(Poemas de Ana P. Pinto)