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2 de mai. de 2012

Oldboy e suas Rimas Visuais


Oldboy e suas Rimas Visuais

As Rimas Visuais, na definição de roteiristas e cineastas, trata-se do uso de imagens e composições recorrentes em um filme para adicionar camadas de significado a uma narrativa. A repetição das imagens pode ser uma ferramenta poderosa para introduzir temas, motivos e imagens simbólicas. Essa técnica também pode ser usada para demonstrar o desenvolvimento dos personagens, informações importantes prenunciadas e criar significados associativos entre personagens que não são explícitos na história.

Oldboy (2006), de Park Chan-wook, tem um sistema de imagens complexo que usa a repetição de composições fílmicas e imagens simbólicas para adicionar profundidade emocional a uma história que trata sobre obsessão e vingança. As Rimas Visuais em Oldboy está fortemente integrado com sua narrativa; a repetição das composições e dos motivos não funcionam exclusivamente para adicionar camadas de significado, mas, às vezes, é uma parte ativa da história utilizada em pontos chave para apresentar a trama.

Oldboy também usa a repetição de várias maneiras para dar suporte às ideias centrais do filme, amplificando o impacto dramático da história. A Figura 1 mostra uma pintura para a qual Dae-su olha por todo o período (15 anos) em que estava preso; ela tem uma inscrição que diz "Ria e o mundo vai rir com você. Chore, e você vai chorar sozinho" (uma citação de Solitude, poema de Ella Wheeler Wilcox).

A expressão sobre o rosto na pintura é ambígua, o que torna difícil afirmar se o personagem (um homem com os traços de Dae-su) está sorrindo ou chorando. A Figura 2 é de uma das últimas cenas no filmes, exibida após Dae-su ter aparentemente apagado a memória. Como o homem na pintura, é difícil dizer se Dae-su está sorrindo ou chorando.

A repetição das composições e circunstâncias no enredo, sugere que existe uma conexão fatídica entre Dae-su e Jin Woo (o homem que o aprisionou), indicando, talvez que nos seus esforços para vingar-se um do outro, seus comportamentos obsessivos os transformaram em pessoas muito parecidas. No momento do confronto final, sua semelhança é tão acentuada que mesmo o simples ato de vestir uma camisa está visualmente conectado pelo uso de composições quase idênticas e ênfase narrativa, com um close-up extremo em suas mãos abotoando as respectivas blusas.

O sistema de imagens em Oldboy também usa a repetição para mostrar o crescimento e a mudança do personagem. A Figura 15 mostra Dae-su no início do filme, segurando uma foto da sua família enquanto estava bêbado em uma delegacia; durante seu confronto final com Woo-jin, essa composição se repete quando ele mostra a foto foto da irmã de Woo-jin (Figura 16). Dessa vez, porém, Dae-su parece focado, determinado e ameaçador. Ele essencialmente tornou-se um novo homem, transformado pelo seu martírio.

Um uso muito comum de um sistema de imagens inclui a repetição de uma imagem especialmente fácil de lembrar quase no final de um filme, sugerindo ao público que a história de uma volta completa e, portanto, está prestes a terminar. A Figura 17 mostra Dae-su sendo libertado da sua prisão no início do filme após uma sessão de hipnose, enquanto na Figura 18 o mostra na última cena do filme, depois que ele acorda de mais uma sessão de hipnose projetada para fazê-lo esquecer de terríveis acontecimentos do passado.

Esse uso específico de um sistema de imagens é muito comum entre os cineastas. Uma das razões é que a repetição de imagens do início do filme com as do final, faz mais do que fazer a história dar uma volta completa, mas também dá ao público a impressão da conclusão narrativa sem questões não resolvidas, mesmo se esse não for o caso.

Afora todos esses detalhes aqui apresentados, Oldboy é um filme para ver e rever diversas vezes, a construção da narrativa é primorosa, atuações incríveis e sem falar que o roteiro tem a sua forma por si só. Aqui vai um aperitivo para quem ficou na vontade de ver o filme. Esta cena postada logo abaixo foi considerada a melhor cena de lutas de todos os tempos, não sei por quem, mas que é uma cena marcante, não tenho dúvidas.