TED: Construindo um carro para motoristas cegos
Dennis Hong conta que depois de fazer um carro robótico foi desafiado a construir um carro para cegos. Aqui ele conta como o projeto culminou com um deficiente visual indo parar na pista de Daytona.
Nós já temos um veículo autônomo. Nós apenas colocaremos um cego dentro dele e está pronto, correto?
(Risos)
Não poderíamos estar mais enganados. O que a NFB queria não era um veículo que poderia levar um cego por aí, mas um veículo no qual um cego pudesse tomar decisões ativas e dirigir. Então, tivemos que jogar tudo pela janela e começar do zero.
Então, para testar esta ideia maluca, desenvolvemos um pequeno buggy como protótipo para testar a viabilidade. E no verão de 2009, convidamos dúzias de jovens cegos de todo o país e lhes demos a chance de entrar nele e dar uma volta. Foi uma experiência absolutamente fantástica. Mas o problema com este carro era que ele foi projetado para ser guiado apenas em um ambiente muito específico, em um estacionamento plano e interditado -- e até mesmo com as guias definidas por cones vermelhos.
Então, com este sucesso, decidimos assumir o próximo grande passo, desenvolver um carro de verdade, que pudesse ser guiado em estradas de verdade. Então, como que ele funciona? Bem, é um sistema algo complexo, mas deixem-me tentar explicá-lo, talvez simplificá-lo. Então, nós temos três passos. Nós temos a percepção, a computação e as interfaces não-visuais. Agora, obviamente que o motorista não pode enxergar, então, o sistema precisa perceber o ambiente e reunir a informação para o motorista. Para isso, usamos uma primeira unidade de medida. Ou seja, ele mede a aceleração, a aceleração angular -- como o ouvido humano, o ouvido interno. Nós fundimos essa informação com uma unidade de GPS para ter uma estimativa da localização do carro. Nós também usamos duas câmeras para detectar as faixas das estradas. E também usamos três telêmetros à laser. Estes lasers escaneiam o ambiente para detectarem obstáculos -- um carro se aproximando pela frente, por trás e ainda quaisquer obstáculos que apareçam na estrada, quaisquer obstáculos ao redor do veículo.
Agora, a primeira interface é chamada de DriveGrip. Então, tem-se um par de luvas, e elas possuem elementos vibratórios junto às articulações, assim, você pode transmitir instruções sobre como conduzir -- a direção e a intensidade. Um outro aparelho é chamado de SpeedStrip. Então, este é um assento -- para falar a verdade, é uma cadeira de massagem. Nós a desmontamos e reposicionamos os elementos vibratórios em diferentes padrões. E os reprogramamos para transmitir informação sobre velocidade, e também informações sobre como usar o acelerador e o freio. Então, aqui, vocês podem ver como o computador entende o ambiente. E como vocês não podem ver a vibração, instalamos, neste caso, LED's nas luvas, assim pode-se ver exatamente o que está acontecendo. Estes são os dados sensoriais, e esses dados são transferidos para os aparelhos através do computador.
Então, estes dois aparelhos, o DriveGrip e o SpeedStrip, são bem eficientes. Mas o problema é estes são aparelhos de sinais instrutivos. Assim, isto não é realmente liberdade, correto? O computador diz a você como dirigir -- vire à esquerda, vire à direita, acelere, pare. Nós chamamos isto de ' o problema do motorista do banco traseiro'. Então, estamos nos afastando dos aparelhos de dicas instrucionais e estamos nos concentrando mais em aparelhos que fornecem informações. Um bom exemplo deste tipo de interface informativa não-visual é chamado de AirPix. Pense nele como uma tela para cegos. Ou seja, ele é uma pequena prancha que tem vários furos pelos quais sai ar comprimido, assim, ele pode, na verdade, delinear imagens. Então, mesmo que você seja cego, você pode colocar sua mão sobre ele, você pode ver as faixas da estrada e os obstáculos. Na verdade, você pode mudar também a frequência do ar que sai e possivelmente a temperatura. Então, ele é, na verdade, uma interface de usuário multi-dimensional. Pois bem, aqui vocês podem ver a câmera esquerda e direita do veículo e como o computador interpreta isso e envia essa informação para o AirPix. Para isto, estamos mostrando um simulador, uma pessoa cega dirigindo usando o AirPix. Este simulador foi também muito útil para o treinamento dos motoristas cegos e para também testar rapidamente diferentes tipos de ideias para diferentes tipos de interfaces não-visuais com o usuário. Então, basicamente é assim que ele funciona.
Cerca de um mês atrás, em 29 de janeiro, nós divulgamos este veículo pela primeira vez junto ao público, na mundialmente famosa corrida Internacional de Daytona, durante o evento da corrida 'Rolex 24'. Nós também tivemos algumas surpresas. Vamos dar uma olhada.
(Música)
(Vídeo) Locutor: Este é um dia histórico [inaudível]. Ele se aproxima da tribuna, companheiros Federistas.
(Aclamação)
(Buzinando)
Eis a tribuna agora. E ele está [inaudível] seguindo aquela van logo à sua frente. Bem, lá vai a primeira caixa. Agora, vejamos se Mark desviará dela. Ele desvia. Ele a ultrapassa pela direita. A terceira caixa foi lançada. A quarta caixa foi lançada. E ele está percorrendo perfeitamente seu caminho entre as duas. Ele está se aproximando da van para fazer a ultrapassagem. Bem, é sobre isto que é tudo, este tipo de exibição de audácia e engenhosidade. Ele está se aproximando do final da volta, traça seu caminho entre os barris que foram colocados lá.
(Buzinando)
(Aplausos)
Dennis Hong: Eu estou muito feliz por você. O Mark me dará uma carona de volta para o hotel.
Mark Riccobono: Vou sim.
(Aplausos)
DH: Então, desde que iniciamos este projeto, temos recebido centenas de cartas, emails, telefonemas de pessoas do mundo todo. Cartas nos agradecendo, mas algumas vezes você também recebe cartas engraçadas como esta:
Agora eu entendo porque tem Braille nos caixas eletrônicos drive-thru.
Mas de vez em quando - (Risos) Mas de vez em quando eu também recebo - Eu não a chamaria de odiosa correspondência - mas cartas com uma preocupação realmente forte:
Dr. Hong, você é louco, tentando colocar pessoas cegas na estrada? Você deve estar fora do seu juízo.
Mas este veículo é um veículo-protótipo, e ele não estará nas ruas até que se prove tão seguro, ou mais seguro do que os veículos atuais. E eu realmente acredito que isto pode acontecer.
Muito obrigado.
(Aplausos)
Fonte:
Dennis Hong: Making a car for blind drivers - TED
[Via BBA]