Blog

Blog

3 de jun. de 2011

Caso Antônio Palocci


Entrevista de Palocci não deve abrandar a crise



Se confirmar na entrevista ao Jornal Nacional, daqui a poucas horas, o que informou a ministros e parlamentares nos últimos dias, o ministro Antonio Palocci nada acrescentará ao enredo da crise da qual é protagonista.
Ele tem se mostrado irredutível na defesa da confidencialidade dos contratos de sua empresa de consultoria, o que significa que não poderá responder aos principais questionamentos que certamente lhe fará o repórter Júlio Mosquéra.
No recente jantar oferecido pela presidente Dilma Rousseff à cúpula do Poder Judiciário, no Palácio da Alvorada, Palocci reiterou que não abrirá a carteira de clientes – e, portanto, qualquer dado mais importante que permita avaliar se ultrapassou a fronteira entre a consultoria e o tráfico de influência.
“Perco o cargo, saio, mas não quebro o sigilo dos contratos”, teria dito numa roda de conversa, segundo a versão de um dos participantes do jantar.

Do que se depreende que o mistério persistirá e o governo não terá condições de conviver com a falta de explicações que virem a página da crise e devolva a capacidade de gestão ao Planalto.
Sem apoio do PT, indisposto (por iniciativa própria) com o PMDB, e orientado juridicamente a preservar a qualquer custo o sigilo dos contratos, resta a Palocci a porta de saída.
A ironia é que deixará o governo pela segunda vez pela razão inversa da primeira: hoje, pela recusa em quebrar sigilo de contratos com empresas; ontem, por quebrar o sigilo de um indefeso caseiro.
A não ser que produza na entrevista uma surpresa na qual ninguém acredita, capaz de provar a legitimidade de sua face de consultor.
Nos meios políticos quase ninguém mais acredita que a novela da crise Palocci – que entra em seu vigésimo dia – faça aniversário de um mês.





Enquanto isso!...

Cada vez mais isolado, Palocci resiste a pressão para se demitir

Parlamentares próximos ao ministro apostam que ele não tomará iniciativa de deixar o cargo

A situação do ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, está cada vez mais delicada. Além da pressão da oposição e da opinião pública para que explique o súbito crescimento de seu patrimônio, o ministro agora tem que lidar com o isolamento no PT e no governo. A presidenta Dilma Rousseff também começou a dar sinais de afastamento. Apesar disso, pessoas próximas a Palocci apostam que ele não vai pedir para sair. Uma eventual demissão terá que partir de Dilma que, até agora, não revelou seus planos para o ministro.
Interlocutores de Dilma afirmam que a presidenta tem dado sinais cada vez mais claros de distanciamento. O primeiro deles é o fato de não ter levado Palocci para o almoço com senadores do PMDB, na última quarta-feira. Em vez do todo-poderoso ministro da Casa Civil, Dilma foi ao almoço acompanhada do até então pouco prestigiado ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio.
Outros sinal foi dado na cerimônia de lançamento do programa Brasil Sem Miséria, na quinta-feira. Dilma entrou no local do evento sozinha. Normalmente ela chega ladeada por Palocci, mas desta vez o ministro entrou no final da fila dos ministros que participaram do lançamento.

Dilma tem dado sinais de que Palocci já perdeu qualquer tipo de tratamento privilegiado

Durante o discurso, Dilma fez uma menção especial à ministra do Planejamento, Miriam Belchior, enquanto o nome de Palocci foi citado junto com os demais ministros. Para pessoas que conhecem o estilo da presidenta, foi um sinal de que o chefe da Casa Civil já não goza de privilégios em relação aos demais integrantes do primeiro escalão.
Um dos motivos para o comportamento de Dilma é a avaliação de que a crise envolvendo o patrimônio de Palocci vai provocar uma queda brusca na popularidade do governo. Segundo fontes petistas, uma pesquisa realizada em São Paulo mostra que a aprovação da administração federal caiu cerca de 10 pontos percentuais. A avaliação é que em todo o País a queda pode chegar a 15 pontos.
Antes de as primeiras notícias sobre o enriquecimento de Palocci virem à tona, líderes do governo repetiam à exaustão os números sobre a popularidade do governo.  Dilma apresentava uma aprovação pessoal na faixa de 70%, índice semelhante ao ostentado pelo ex-presidente Lula no início de seu governo. Ao mesmo tempo o governo como um todo tinha aprovação de mais de 50% da população.


Fogo amigo
No PT, a situação de Palocci não é melhor. Mesmo aliados tradicionais do ministro optaram por se afastar do caso. A única exceção, segundo um dirigente, é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a embarcar para Brasília para dar orientações ao ministro. A interferência, no entanto, logo alimentou as críticas à dificuldade do governo de gerenciar sozinho a crise.


A avaliação que predomina entre líderes da corrente Construindo um Novo Brasil (CNB), que dá as cartas no PT, é a de que o partido e o governo estão pagando o pato por um problema pessoal de Palocci. Ao contrário da crise do mensalão, quando vários petistas saíram em defesa do ex-tesoureiro Delúbio Soares por considerarem que as irregularidades foram cometidas em benefício dos candidatos petistas às eleições de 2004, o CNB avalia que Palocci agiu em nome próprio.
A insatisfação do PT ficou evidente na reunião realizada ontem pela executiva nacional da sigla, na qual dirigentes chegaram a pedir que o partido suspendesse qualquer operação para dar sustentação ao ministro e cobrasse publicamente que ele dê esclarecimentos. No fim das contas, o PT acabou negando  o pedido de Palocci de esperar o parecer da Procuradoria-Geral da República antes de pedir sua cabeça.
Entre os petistas, o limite é a entrevista que o ministro deve dar ainda hoje ao Jornal Nacional. “Se ele der uma explicação convincente o partido poderá sair em sua defesa. Se continuar se negando a revelar informações, Palocci terá que se defender sozinho”, disse um dirigente do partido.