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22 de jul. de 2011

Biografia de Castro Alves

Castro Alves
 Biografia de Castro Alves, poesias, transição entre o romantismo e o parnasianismo,
literatura brasileira no século XIX, obras como Navio Negreiro e Espumas Flutuantes, livros





fotografia de Castro Alves
Foto do poeta Castro Alves 

Biografia, obras e estilo literário 
No período em que viveu (1847-1871), ainda existia a escravidão no Brasil. O jovem baiano, simpático e gentil, apesar de possuir gosto sofisticado para roupas e de levar uma vida relativamente confortável, foi capaz de compreender as dificuldades dos negros escravizados.
 
Manifestou toda sua sensibilidade escrevendo versos de protesto contra a situação a qual os negros eram submetidos. Este seu estilo contestador o tornou conhecido como o “Poeta dos Escravos”. 
Aos 21 anos de idade, mostrou toda sua coragem ao recitar, durante uma comemoração cívica, o “Navio Negreiro”. A contra gosto, os fazendeiros ouviram-no clamar versos que denunciavam os maus tratos aos quais os negros eram submetidos. 
Além de poesia de caráter social, este grande escritor também escreveu versos líricos-amorosos, de acordo com o estilo de Vítor Hugo. Pode-se dizer que Castro Alves foi um poeta de transição entre o Romantismo e o Parnasianismo. 
Este notável escritor morreu ainda jovem, antes mesmo de terminar o curso de Direito que iniciara, pois, vinha sofrendo de tuberculose desde os seus 16 anos.
 
Apesar de ter vivido tão pouco, este artista notável deixou livros e poemas significativos.

Poesias de Castro Alves:

- Espumas Flutuantes, 1870

- A Cachoeira de Paulo Afonso, 1876 

- Os Escravos, 1883 

- Hinos do Equador, em edição de suas Obras Completas (1921) 


Castro Alves - Lirismo X Objetividade


Antônio de Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847 na fazenda Cabaceiras, interior da Bahia. Concluídos os estudos secundários no Ginásio Baiano, onde começou a escrever seus primeiros versos, ingressou-se, em 1.862, na Faculdade de Direito do Recife, onde despertou tamanha notoriedade por seu dom poético.


Sua obra compreende: Espumas Flutuantes, A revolução de Minas (teatro), A cachoeira de Paulo Afonso, Os Escravos.
Esse mártir da Literatura pertenceu à chamada Terceira Geração do Romantismo. Sua obra poética subdivide-se em duas vertentes: a lírico-amorosa, na qual ele ainda conserva resquícios do subjetivismo cultuado pelos poetas da segunda geração.


Contudo, a figura da mulher já não é mais idealizada, intocável, e sim vista por um plano mais realista, resultante de um amor materializado.


Pode-se dizer que Castro Alves traz em seu labor poético, uma característica individualista que o difere de seus antecessores: Seria algo que talvez prenunciasse e se convertesse em um pré-parnasianismo, que iria emergir posteriormente na voz de Olavo Bilac.


Tal característica era representada por uma intensa sensualidade que remontava os moldes do Classicismo e por um espírito norteador baseado em traços da Mitologia Greco-Latina.
Dando ênfase à outra vertente, chamada de “poesia social”, trazia um “falso subjetivismo”, ou seja, sua característica marcante pautava-se pela denúncia e insatisfação frente ao cenário político da época, mais precisamente da época da escravidão brasileira.


Através dessa temática, ele conseguiu despertar um espírito crítico diante das consciências que notadamente anseavam pelo desejo da libertação da escravatura.


É importante ressaltar que Castro Alves foi muito influenciado por Vítor Hugo, o escritor francês autor de “Os Miseráveis”, cuja temática de sua obra representou a metáfora do pássaro Condor, uma ave que habita as montanhas do Andes, de hábitos solitários, capaz de enxergar longas distâncias, simbolizando o caminho da justiça e da liberdade.


Vejamos sua magnífica obra, a lírico-amorosa e a social:



Marieta
Como o gênio da noite, que desata
o véu de rendas sobre a espada nua,
ela solta os cabelos... bate a lua
nas alvas dobras de um lençol de prata.

O seio virginal que a mão recata,
embalde o prende a mão... cresce, flutua...
Sonha a moça ao relento... Além na rua
preludia um violão na serenata.

Furtivos passos morrem no lajedo...
Resvala a escada do balcão discreta...
matam lábios os beijos em segredo...

Afoga-me os suspiros, Marieta!
Oh surpresa! Oh! Palor! Oh! Pranto! Oh! Medo!
Ai! Noites de Romeu e Julieta!...

Por meio da mesma, percebemos a figura feminina denotando um amor mais real, despertando a sensualidade e a concretização do contato físico. Diferente das donzelas virginais e inacessíveis representadas pela segunda geração, a mulher se entrega aos encantos de seu admirador, levando-nos a crer que o encontro amoroso foi realmente consumado.


Vozes d'África
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...

Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
— Infinito: galé! ...
Por abutre — me deste o sol candente,
E a terra de Suez — foi a corrente
Que me ligaste ao pé...

O cavalo estafado do Beduíno
Sob a vergasta tomba ressupino
E morre no areal.
Minha garupa sangra, a dor poreja,
Quando o chicote do simoun dardeja
O teu braço eternal.
Minhas irmãs são belas, são ditosas...
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
Dos haréns do Sultão.
Ou no dorso dos brancos elefantes

Embala-se coberta de brilhantes
Nas plagas do Hindustão.


Por tenda tem os cimos do Himalaia...
Ganges amoroso beija a praia
Coberta de corais ...
A brisa de Misora o céu inflama;
E ela dorme nos templos do Deus Brama,
— Pagodes colossais...
[...]

Pode-se dizer que esse é quase um poema épico pela sua extensão, no qual notamos um lirismo pungente e o traço principal que o caracteriza - o verdadeiro repúdio à situação social na época da escravidão, como é explicitado por meio dos seguintes versos:


Minhas irmãs são belas, são ditosas...
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
Dos haréns do Sultão.
Ou no dorso dos brancos elefantes

Ao ressaltar o termo “hárens do Sultão”, Castro Alves denuncia a condição submissa das escravas perante ao seu Senhor, visto que as mesmas eram “usadas”sem a mínima consideração por parte de quem as considerava como mero objeto de prazer.


Por Vânia Duarte
Graduada em Letras
Equipe Brasil Escola


S. PAULO  

Em Março de 68, Eugénia Câmara e Castro Alves viajam para São Paulo. Ali, na Faculdade do Largo de S. Francisco, o poeta pretende concluir o curso de Direito. Porém, mais do que o estudo, mobilizam-no os grandes ideais da Abolição e da República, também a agitação académica a fluir das arcadas da Faculdade. Em sessão magna, pela primeira vez declama o “Navio Negreiro”:

Era um sonho dantesco... O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar,
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite
Horrendos a dançar... 
Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães;
Outras, moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs! 
E ri-se a orquestra irónica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doidas espirais...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais.  
Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que de martírios embrutece,
Cantando, geme e ri! 
No entanto, o capitão manda a manobra,
E após, fitando o céu que se desdobra
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
“Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!...” 
E ri-se a orquestra irónica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doidas espirais...
Qual num sonhos dantesco as sombras voam!
Gritos, ais, maldições, preces ressoam
E ri-se Satanás!...  

Conclui o poeta: 

Auriverde pendão da minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteada dos heróis na lança,
Ante te tivessem roto na batalha,

Que servires a um povo de mortalha! 






O "Adeus" de Teresa




A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus
E amamos juntos E depois na sala
"Adeus" eu disse-lhe a tremer co'a fala

E ela, corando, murmurou-me: "adeus."

Uma noite entreabriu-se um reposteiro. . .
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus
Era eu Era a pálida Teresa!
"Adeus" lhe disse conservando-a presa

E ela entre beijos murmurou-me: "adeus!"

Passaram tempos sec'los de delírio
Prazeres divinais gozos do Empíreo
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse - "Voltarei! descansa!. . . "
Ela, chorando mais que uma criança,

Ela em soluços murmurou-me: "adeus!"

Quando voltei era o palácio em festa!
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei! Ela me olhou branca surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!

E ela arquejando murmurou-me: "adeus!"

Castro Alves



A Duas Flores


São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.


Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu...
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.


Unidas, bom como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar...
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.


Unidas... Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rodas da vida,
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!


Castro Alves

A Uma Taça Feita de Um Crânio Humano



Não recues! De mim não foi-se o espírito...
Em mim verás - pobre caveira fria -
Único crânio que, ao invés dos vivos,
Só derrama alegria.


Vivi! amei! bebi qual tu: Na morte
Arrancaram da terra os ossos meus.
Não me insultes! empina-me!... que a larva
Tem beijos mais sombrios do que os teus.


Mais val guardar o sumo da parreira
Do que ao verme do chão ser pasto vil;
- Taça - levar dos Deuses a bebida,
Que o pasto do réptil.


Que este vaso, onde o espírito brilhava,
Vá nos outros o espírito acender.
Ai! Quando um crânio já não tem mais cérebro
...Podeis de vinho o encher!


Bebe, enquanto inda é tempo! Uma outra raça,
Quando tu e os teus fordes nos fossos,
Pode do abraço te livrar da terra,
E ébria folgando profanar teus ossos.


E por que não? Se no correr da vida
Tanto mal, tanta dor aí repousa?
É bom fugindo à podridão do lodo
Servir na morte enfim p'ra alguma coisa!...