No post Medo de barata - transtorno sexual ou alergia? já contei a vocês sobre meu medo de barata e falei que esse é um medo que não pretendo, ao menos por enquanto, encarar. Mas existem medos que precisam ser superados por impactarem de forma negativa nossa qualidade de vida. Falamos sobre esse assunto no post Medos: aprenda a enfrentá-los, no qual vimos que a forma mais eficaz para perder o medo é utilizar a dessensibilização e exposição. Neste post, compartilho com vocês como superei um trauma de infância por meio da chamada exposição.
A origem do medo de tirar sangue
Aos oito anos de idade, fiquei hospitalizada 42 dias devido a uma pneumonia causada por uma super bactéria, sendo submetida aos mais diversos [e frequentes] procedimentos invasivos que você possa imaginar, inclusive cirúrgicos. Compartilho um pouco dessa história em Pneumonia e hepatite C. Pra quem não sabe, foi nessa ocasião que contraí o vírus da hepatite C, contra o qual luto hoje em dia.
Lembro-me de acordar no meio da noite com várias agulhadas no pé. As veias não aguentavam mais e estouravam, obrigando as enfermeiras a furarem novamente e novamente e novamente. Alguma dúvida de que isso geraria um trauma?
O medo
Eu já era adulta e ainda sentia o mesmo: quando um médico pedia um exame de sangue, tentava dissuadi-lo de todo o jeito explicando o medo e tentando convencê-lo que o exame não seria necessário. Minha argumentação não era muito eficiente, pois nunca consegui reverter um pedido de exame. Óbvio, né?
O que acontecia então? Eu adiava. Adiava o exame até o pedido médico estar quase vencendo, o que o impediria de ser aceito pelo plano de saúde. Era a coisa mais idiota que eu poderia fazer (e eu sabia disso), porque durante todo esse tempo eu era atormentada pelo medo, chorava todas as noites e não dormia direito. Se eu fizesse o exame no dia seguinte, de quanto sofrimento eu me pouparia! Eu sabia disso, mas simplesmente não conseguia fazer diferente.
No dia fatídico, lágrimas rolavam dos meus olhos na sala de espera. Eu precisava entrar acompanhada na sala de coleta (lembrando que eu já tinha vinte e poucos anos!), porque SEMPRE ao levantar da cadeira, após terminado o exame, eu desmaiava. Porque desmaiar só depois eu não sei. Só sei que era assim.
Eu até pensava que nunca poderia engravidar, porque não conseguiria ter de fazer exame de sangue uma vez por mês. Hoje penso que talvez não tivesse coragem mesmo.
Quase esqueço de contar a parte mais engraçada. Eu tinha um texto que sempre era repetido para o coitado [e paciente] técnico que ia colher o meu sangue: "se você não achar a veia, tira a agulha e coloca de novo. Por favor, não cavoca ela no meu braço". Digo "paciente" porque vocês não acham que eu deixava ele tirar logo de cara, né? Aí vem a parte engraçada (não para o técnico, claro): eu repetia umas mil vezes: "eu vou deixar, mas espera só um pouquinho". Esse "espera só um pouquinho" é famoso na minha família.
A superação
Tudo começou aos poucos, um passo de cada vez. O primeiro deles foi começar a abreviar o prazo entre o pedido do médico e o exame em si. Parece fácil pra você? Pra mim não foi.
Lembro-me da primeira vez que fui fazer um exame de sangue sozinha. Eu achei que estava grávida e não queria que ninguém soubesse [não estava]. Testes de farmácia não eram confiáveis, eu sabia. Avisei no laboratório que eu desmaiava e, por isso, fui colocada numa maca. Depois do exame, permaneci lá por 30 minutos, até me sentir apta a levantar sem cair. Foi difícil, mas consegui.
Depois disso passei a ir sozinha. Continuava falando o texto do não cavoca a agulha no braço, mas fui abandonando o "espera só um pouquinho", para a alegria de todos e bem-estar geral da Nação.
E eis que surge em minha vida a dona hepatite C. E foi ela que me ajudou a superar esse trauma de vez. Como? Exposição, minhas amigas e meus amigos, exposição. Comecei a fazer tantos exames e com tanta frequência que fui me acostumando com aquilo.
Gradualmente, abandonei a maca e passei a ser atendida numa sala com poltronas confortáveis, onde ficam os pacientes que precisam fazer exames com repetição. Quando passei a sentir confiança no laboratório e nos técnicos, abandonei o texto do "não cavoca". Continuava esperando uma meia hora depois para levantar e ir embora, tempo que foi diminuindo, diminuindo, diminuindo... até o dia que simplesmente levantei e fui embora. E sabem quando eu percebi que tinha feito isso? Quando já estava atravessando a rua. A sensação de "meu Deus, que perigo, eu podia ter desmaiado na rua" foi seguida em poucos instantes pelo sorriso de "que orgulho de mim".
E assim, hoje entro no laboratório como qualquer adulto normal, sozinha, sento na cadeira normal, colho sangue, levanto e saio. E o melhor de tudo? Sem pânico, sem sofrimento. É tudo muito normal. Tá que eu ainda viro o rosto: se tem uma coisa que não posso ver é a agulha entrando na veia, especialmente na MINHA veia. Mas nem precisa ver mesmo, né?
Queria destacar que nesse processo todo houve um elemento que me ajudou muito: o Laboratório Sabin, com sua excelência no atendimento ao cliente - que justifica eu estar aqui fazendo propaganda de graça. Sem dúvida, o cuidado de seus profissionais foi fundamental para que eu me tornasse uma pessoa normal. Destaque também à minha família, que aguentou paciente cada "espera só um pouquinho" por mim proferido em aproximadamente 15 anos. E a mim e minha coragem, claro: palmas para a Ana Flor! Clap clap clap
Quanto às baratas... ah, deixemos as baratas pra lá!