Cada detalhe do chalé construído pelo pai da aviação revela seu gênio inventivo
Por: Marisa Guadalupe Plum, Museu Casa de Santos-Dumont – “A Encantada” Publicado em 20/09/2006 | Atualizado em 30/07/2010
A casa de Santos-Dumont em Petrópolis foi transformada em museu em 1956 (fotos: Cathia Abreu).
Rua do Encanto, 22. Esse endereço, que parece saído de um conto de fadas, pertence, na verdade, a uma casa que Santos-Dumont construiu na cidade de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Erguida em uma encosta no Morro do Encanto, ela ganhou o nome de A Encantada .
Na época em que Santos-Dumont viveu, Petrópolis era o destino das famílias ricas do Rio de Janeiro durante o verão. Por ser um lugar tranqüilo, bonito e de clima ameno, até a família imperial buscava refúgio na região nos dias de calor! Assim sendo, ao conhecer a cidade, Santos-Dumont decidiu ter uma casa ali: um chalé de três andares, que ficou pronto em 1918. Cada detalhe da construção – que desde 1956 é um museu – revela o gênio inventivo do proprietário.
No primeiro andar, Santos-Dumont mantinha uma oficina onde revelava fotos, um de seus passatempos preferidos. Já no segundo andar, escrevia cartas em uma escrivaninha em forma de... asa-delta! O móvel dividia o pequeno espaço existente com prateleiras cheias de livros e com a mesa onde o inventor fazia suas refeições. Essa peça, aliás, é especial. Ela tem um recorte que, na verdade, define o espaço reservado ao garçom que servia Santos-Dumont na hora das refeições. Como na casa não havia cozinha, o inventor pedia seu almoço ou jantar em um hotel que existia em frente à Encantada. E o garçom vinha a reboque!
A escada acima foi projetada por Santos-Dumont para que ninguém batesse com a canela na madeira ao subir os degraus.
Para chegar ao terceiro andar de sua casa – a suíte, onde descansava –, Santos-Dumont subia uma escada diferente, com degraus que têm um corte que os deixa parecidos com raquetes. Ele optou por esse formato porque não queria que ninguém, ao subir ao seu quarto, batesse com a canela na madeira, uma vez que a escada estava quase na vertical, ou como diríamos popularmente, era muito “em pé”, para economizar espaço. Uma escada no mesmo estilo liga o primeiro ao segundo andar, mas, ali, foi usada para dar um estilo harmônico à construção.
Na suíte de Santos-Dumont, olhos desatentos poderiam ver apenas uma mesa e um cabideiro. Mas o inventor enxergava também uma cama e um porta-objeto. Afinal, ele havia projetado a mesa para ter essa dupla função. Seu tampo era arredondado para evitar que o colchão posto ali escorregasse e bastava levantá-lo para revelar uma parte oca, onde se podia pôr objetos.
Achou curioso? Pois você ainda não sabe como é o banheiro! Na época, era hábito tomar banhos mornos em grandes banheiras. Sem espaço para isso em sua casa, Santos-Dumont criou um chuveiro de água morna. Fez furos no fundo de um balde e, com uma divisória, separou o seu interior em duas partes: uma ficava cheia de água fria; a outra, repleta de água quente. Puxando duas cordas, ele sacudia o balde, misturava a água e conseguia um jato de água morna para seu banho.
Por apresentar soluções criativas como essa, A Encantada pode ser considerada mais um invento de Santos-Dumont. Uma invenção que vem se somar às muitas outras que só o pai da aviação poderia criar!
Marisa Guadalupe Plum,
Museu Casa de Santos-Dumont – “A Encantada”.