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28 de jan. de 2013

Incêndios em boates no Brasil e no mundo: o que fazer?


 












A tragédia de Santa Maria está longe de ser um caso isolado. E como não conseguimos aprender com os erros dos outros, aqui listamos um apanhado para as autoridades e os cidadãos terem mais argumentos para  justificar os investimentos em segurança.

Como na aviação, só depois de um grande choque é que mudanças mais profundas são realizadas. Talvez nas arenas dos grandes acontecimentos futebolísticos tenhamos os requisitos básicos de segurança atendidos. Mas essa cultura não alcançou Santa Maria/RS. Uma cidade universitária (lá é a sede da UFSM - Universidade Federal de Santa Maria) de aproximadamente 260.000 habitantes, sendo a quinta maior cidade do estado. Ou seja, não estamos falando de uma corrutela e sim de uma cidade relativamente grande e desenvolvida cujo local da tragédia ardeu em chamas e sufocou em fumaça em frente a uma unidade do Carrefour.

Atenção! Cenas fortes com vítimas no local do incêndio.

Infelizmente, esses jovens acadêmicos de cursos que vão de medicina veterinária à pedagogia tiveram que ser sacrificados para que haja maior rigor nas inspeções e no cumprimento de normas técnicas de segurança. Lamentavelmente.

Mas que a indescritível dor dos amigos e familiares que sofreram com essas perdas não seja em vão. Sim, pois corremos esse risco sempre. Uma visitinha de autoridade aqui, responsáveis não punidos ali, e mais uma tragédia vai para o esquecimento para voltar a ser relembrada em outra daqui a alguns anos quando outro evento similar nos trazer novamente esse sentimento de indignação.


Para contribuir vamos lembrar de um exemplo que ocorreu ainda mais ao sul e que é, na essência, bastante similar ao caso da boate Kiss. O caso da boate República Cromañón, ocorrido na hermana Argentina, e que provocou uma série de mudanças na segurança das casas noturnas da capital argentina, prisões de empresários, dos músicos, e causou a queda de autoridades.


Tabela com os incêndios em boates no Brasil e no mundo.

Ano
País
Mortos*
Evento
1993
Argentina
17
Em dezembro, 17 jovens pereceram em um incêndio na discoteca Kheyvis, no bairro de Olivos, em Buenos Aires.
1994
China
200
Na cidade de Fuxin, um incêndio matou mais de 200.
2000
México
20
Em outubro, mais  de 20 pessoas morreram na discoteca Lobohombo. O local não tinha um número suficiente de saídas.
2000
China
300
Mais de 300 pessoas morreram em uma sala de Luoyang.
2001
Brasil
6
Em novembro, Durante um show de samba foram disparados fogos de artifício que iniciaram  um incêndio que matou 6 pessoas na sala Caneco Mineiro, que não tinha saídas de emergência adequadas,  em Belo Horizonte/MG. Houve centenas de feridos.
2002
Venezuela
50
Em dezembro, um incêndio matou cerca de 50 pessoas no clube La Goajira, em Caracas. A boate estava lotada.
2002
Peru
28
Em julho, um incêndio matou 28 pessoas na discoteca Utopía, do centro comercial Jockey Plaza.
2003
EUA
100
Em fevereiro, cem pessoas morreram em um incêndio em na boate The Station no estado de Rhode Island, EUA, também provocado por fogos de artifício.
2004
Argentina
194
Um incêndio matou 194 pessoas em 30 de dezembro daquele ano e deixou cerca de 1.400 feridos na discoteca República Cromañón, em Buenos Aires. O local estava lotado quando o fogo se iniciou com o uso de fogos de artífício. Embora a banda costumasse usar fogos pirotécnicos , não o fizeram naquela ocasião, sugerindo que o incêndio tenha se iniciado com um fogo de artifício usado pelo público.  O caso levou à queda do prefeito de Buenos Aires, Aníbal Ibarra, após um julgamento político, em 2005.
2008
Equador
13
Em abril, treze pessoas oram levadas a óbito na discoteca Factory.
2008
China
43
Em 2008, um incêndio matou 43 e feriu 88 em uma discoteca na cidade de Shenzhen, no Sul da China.
2012
Espanha
3
Em 31 de outubro do ano passado, três jovens morreram e duas ficaram  gravemente feridas em uma festa de Halloween em Madri, no ginásio Madri Arena. As vítimas tinham entre 18 e 25 anos.
2013
Brasil
232
Informações preliminares dão conta que o fogo teria se iniciado com a queima de fogos de artifício durante show. A saída parecia ser pequena para cerca de 2000 pessoas em pânico na hora do incêndio. As vítimas, jovens estudantes de diversos cursos superiores,  teriam morrido sufocadas, e não queimadas.
Alguns números são aproximações


Em 30 de dezembro de 2004 se apresentava na República Cromañón o grupo musical Callejeros, que já havia tocado no estabelecimento meses antes, na inauguração do local. O incêndio começou aproximadamente às 22 horas e 50 minutos, depois que um dos espectadores do show acendeu um elemento de pirotecnia, cujos projeteis incandescentes entraram em contato com a decoração do teto, mais precisamente uma “meia sombra”, uma espécie de tela de plástico inflamável, que estava pendurada no estofado do teto, que era feito de placas de poliuretano. Ao entrar em combustão a “meia sombra” contaminou o ar com gases nocivos, intoxicando mais de cem jovens que se encontravam ali.


Investigações policiais e judiciais revelaram que a discoteca República Cromañón tinha o certificado de bombeiros vencido, cerca do triplo de público permitido e problemas com a saída de emergência.


  O incêndio da boate The Station, Rhode Island, EUA. Atenção! Cenas fortes.

Ao perceber o incêndio os presentes no local começaram a evacuar o lugar. Entretanto, esta evacuação não se realizou de forma adequada por diversos motivos: a quantidade de pessoas que estavam dentro da discoteca era maior que a capacidade estipulada; uma das saídas se encontrava fechada com um cadeado e fios; os gases tóxicos produzidos pelos materiais inflamáveis asfixiaram rapidamente as pessoas; e o queda de energia elétrica produzida pelo incêndio.

Muitos dos que conseguiram sair do lugar retornaram para resgatar as pessoas que ainda se encontravam no interior do edifício. Apesar dos esforços, durante o incêndio e nos dias subsequentes à tragédia morreram 194 pessoas e ao menos 1432 ficaram feridas, inclusive familiares de integrantes da banda. Faleceram várias crianças e muitos meios de comunicação declararam que havia uma espécie de berçário ou creche para crianças – onde as mães deixavam seus filhos para assistirem ao show – no banheiro feminino, o que foi desmentido pelas testemunhas.

Quase todas as mortes foram resultantes da inalação de diferentes gases (principalmente monóxido de carbono e ácido cianídrico). Durante a operação de socorro participaram 46 ambulâncias, encarregadas de transportar as vítimas até algum dos 24 hospitais públicos ou 11 clínicas privadas. As pessoas contratadas pelos organizadores para efetuar os primeiros auxílios não contavam com o treinamento requerido já que foram contratados outros profissionais para diminuir os custos.

Percebem a similaridade? Alguns detalhes certamente surgiram com as investigações dos peritos e da imprensa. Mas já poderíamos dizer que se trata de uma cópia de uma tragédia anunciada, mas jamais ouvida.

Consequências

As consequências do incêndio, apelidadas de "Efeito Cromañon", causou importantes mudanças políticas e culturais. Em relação as questões políticas, a Legislatura da Cidade de Buenos Aires iniciou um processo de impeachment para destituir ao chefe de governo Aníbal Ibarra, por considerá-lo responsável político da tragédia. O julgamento terminou no ano seguinte à tragédia com sua destituição, sendo substituído pelo vice-chefe do governo Jorge Telerman. A despeito das questões culturais, a tragédia conscientizou a sociedade sobre o estado das discotecas e locais destinados a espetáculos musicais. O governo revisou a situação das discotecas e casas noturnas, resultando no fechamento de uma grande quantidade delas. A tragédia também é apontada como uma dos fatores causadores da decadência do rock rolinga, estilo musical originalmente argentino.

Dentre as medidas de segurança adotadas após o desastre incluem-se mais sinalização interna das discotecas indicando a saída de emergência; menos tolerância no tocante ao limite de público autorizado para cada local e a colocação de cartazes indicando a quantidade permitida de pessoas no recinto.

Locais com mais de um andar devem também agora atualizar, regularmente, informações sobre a resistência do prédio, segundo documento da Agência Governamental de Controle publicado (AGC) no site do governo da cidade de Buenos Aires.

As medidas foram definidas após reunião com empresários do ramo, músicos, arquitetos, engenheiros e os grupos que representam os pais das vítimas daquela tragédia na República Cromañón. Cabe à AGC verificar que as normas de segurança estão sendo cumpridas, de acordo com informações oficiais.

Além de novas exigências para as casas noturnas, também foram definidas e intensificadas as normas de segurança para bares, teatros independentes, clubes com música ao vivo e salões para tango, por exemplo. As exigências de segurança deverão ser respeitadas antes da abertura do local e durante seu funcionamento.

De acordo com o governo da cidade, os "cidadãos poderão saber o estado de habilitação e funcionamento dos locais na internet".

Na internet, especialistas publicaram documentos sobre o que deveria ser feito para que novas tragédias como esta não ocorram no país.
Num deles, da Universidade de Palermo, especialistas dizem que a população também deve estar "mais atenta" sobre os locais que frequentam, tentando saber se cumprem ou não as exigências de segurança.

Vamos nos espelhar no exemplo dos portenhos e até mesmo aprimorar o que foi feito por lá. Esse é o melhor tributo que poderíamos pagar para esses jovens que partiram tão cedo: que suas vidas não tenham sido debitadas em vão.

O que fazer para mudar?

A adoção de medidas como as tomadas na Argetina, adaptadas à nossa realidade, já seria uma evolução. Mas sugerimos que seja incluída, no início de cada show, as informações sobre o que fazer em caso de emergência, nos moldes do que já é feito nos aviões e boas salas de cinema.

O que fazer para sobreviver?


Caso você esteja em meio a uma situação de incêndio e/ou tumulto tenha em mente as recomendações dos especialistas.
Em caso de tumulto:

  • Fique em pé: faça toda força necessária para não cair (é a diferença entre viver e morrer).
  • Corra para os lados (não fique no meio do tumulto) e tente encontrar uma saída do meio da confusão, estabeleça um alvo e vá até ele.
Em caso de incêndio:


  • Caso não consiga sair rapidamente do ambiente, rasteje, a fumaça tende a subir. Pano úmido na boca também ajuda a evitar o sufocamento.
  • Encoste nas portas: se elas estiverem quentes, provalvelmente há fogo atrás delas. Não entre.

Fonte: G1, BBCWikipedia, Globo News, R7
[Via BBA]