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23 de nov. de 2011

7 motivos que fazem as pessoas acreditarem em coisas do outro mundo!...


Em uma pequena cidade de Illinois (EUA), um bandido misterioso – e bizarro – estampava as capas dos jornais lá por volta de 1944. Tudo começou com uma mulher que declarou que um homem entrou em seu quarto no meio da noite e anestesiou suas pernas com um spray a gás paralisante. Logo apareceram os jornais com manchetes como “BANDIDO DO ANESTÉSICO À SOLTA”. E, nos 13 dias seguintes, cerca de 25 casos semelhantes foram relatados e amplamente explorados pela imprensa. A polícia da cidade ficou de prontidão. E os maridos com suas armas carregadas. Duas semanas depois, ninguém havia sido preso. E nenhum vestígio químico havia sido descoberto. Assim, tanto a polícia quanto a mídia começaram a se referir ao evento como um caso de “histeria de massa”.


Ondas de avistamentos de ETs, chupacabras, fantasmas ou bandidos bizarros cuja existência nunca foi comprovada aparecem de tempos em tempos em diversos lugares. Às vezes, vira moda ver sinais milagrosos – ou mensagens malignas escondidas em músicas, rótulos, filmes. Mas o que leva uma pessoa a acreditar em coisas como essas? É disso que fala o livro “Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas?”, do psicólogo e historiador da ciência americano Michael Shermer. O critério usado por ele para definir o que são coisas “estranhas” é a falta de evidências científicas para comprovar sua existência.


Com base no livro, listamos alguns fatores que influenciam nesse tipo de crença – e podem fazer, inclusive, com que pessoas extremamente inteligentes sejam pegas. Afinal, garante ele, ninguém está completamente imune à histeria coletiva. Dê uma lida e depois diga pra gente se você concorda ou não.


1. Elas querem acreditar


Segundo Michael Shermer, a principal razão pela qual as pessoas acreditam em coisas estranhas é simpes: elas querem acreditar. Mas por que? Porque dá bem-estar, é reconfortante e consola. Para Shermer, se alguém perguntar qual é a sua posição sobre a vida após a morte, é provável que você diga que é favorável. E explica: “O fato de eu ser favorável à vida após a morte não significa que vou consegui-la [ou que ele acredito nela]. Mas quem não a quereria? É esse o ponto. É uma reação muito humana acreditar nas coisas que nos fazem sentir melhor”.


2. A gratificação imediata


Muitas crenças estranhas promovem um bem-estar instantâneo. Shermer cita no livro o exemplo dos médiuns que atendem pelo telefone – a um custo de 3,95 dólares por minuto. Eles usam as chamadas técnicas de leitura a frio: vão tentando adivinhar as coisas partindo de informações mais gerais (envolvendo coisas banais que são verdadeiras para quase todo mundo, como “pressões financeiras vêm lhe causando problemas” – afinal, até Eike Batista terá um dia difícil se perder grana no mercado financeiro). A partir das pistas que as pessoas vão dando, os supostos médiuns conseguem deduzir as informações mais específicas que irão impressionar. Se o médium diz algo que não corresponde à realidade da pessoa naquele momento, a saída é simples: ele diz que a coisa vai acontecer no futuro. E a pessoa acredita. Afinal, a grande sacada é que eles não precisam estar certos o tempo todo. “Quem telefona costuma esquecer os erros e lembrar mais dos acertos e, o mais importante, as pessoas desejam que o médium acerte. Os céticos não gastam 3,95 dólares por minuto nisso, mas os crentes sim”, explica o autor.


                              3. Simplicidade


Para termos uma gratificação imediata, é preciso que as crenças tenham explicações simples para as coisas complexas do mundo. “Coisas boas e ruins acontecem tanto para as pessoas boas quanto para as ruins, aparentemente de modo aleatório. As explicações científicas costumam ser complicadas e requerem treino e esforço para ser entendidas. A superstição e a crença no destino e no sobrenatural oferecem um caminho mais simples”, diz Shermer. Para ilustrar isso, ele conta uma experiência de Harry Edwards, chefe da Australian Skeptics Society (Sociedade dos Céticos Australianos).
Edwards publicou uma carta num jornal local falando sobre uma galinha de estimação que ele costumava carregar empoleirada nos seu ombro. Às vezes, porém, ela não se segurava e acabava deixando um “cartão de visitas” na sua camisa. Mas o que poderia ser algo desagradável acabava dando origem a acontecimentos muito positivos. Edwards listou alguns desses episódios e os correlacionou com certos eventos que ocorriam em seguida e chegou à conclusão de que o cocô da galinha lhe trazia boa sorte. Sempre que ela carimbava sua roupa, ele encontrava uma carteira com dinheiro, ganhava na loteria, recebia alguma notícia boa. Então ele levou a ave para várias consultas espirituais e descobriu que ela havia sido um filantropo numa vida passada e que tinha reencarnado para fazer o bem às pessoas – por meio de suas fezes. Assim, Edwards terminou sua carta ao jornal oferecendo-se para vender saquinhos com o “cocô da sorte” de sua galinha. Era tudo um teste, mas ele recebeu dois pedidos e 20 dólares pela “mercadoria”. Sim, houve pessoas que compraram a história. Porque ela era simples – mais fácil que as leis da probabilidade, por exemplo.


4. Nível de incertezas e perigos do local


O local onde a pessoa está influencia suas crenças. Estudos mostraram que quanto mais incertezas o ambiente oferece, maior é a superstição. O antropólogo Bronislaw Malinowski constatou, por exemplo, que os habitantes das ilhas Trobriand, no litoral da Nova Guiné, recorriam mais a rituais supersticiosos à medida que se afastavam no mar para pescar. Nas águas calmas das lagoas a que estavam acostumados, os rituais desapareciam. Ele concluiu, então, que a magia aparece em situações em que estão em jogo a incerteza, o acaso e um jogo emocional intenso entre a esperança e o medo. “Não encontramos isso quando a atividade é certa, confiável e está sob o controle de métodos racionais e processos tecnológicos”, conta Malinowski.


5. Abertura a novas experiências


Estudos envolvendo experiências místicas concluíram que as pessoas com maior predisposição ao misticismo (ou seja, à crença em coisas estranhas) tendem a ter uma personalidade com altos níveis de complexidade, abertura a novas experiências, variedade de interesses, inovação, tolerância à ambiguidade e criatividade. Elas também podem ter maior propensão a serem absorvidas em fantasias, capacidade de suspender o processo de julgamento que permite separar eventos reais e imaginação e uma boa disposição de investir seus recursos mentais para representar o objeto imaginário do modo mais vívido possível.


6. O fato de pessoas inteligentes em um campo da ciência não serem necessariamente inteligentes em outro


Michael Shermer chama atenção para o fato de que muitos pesquisadores brilhantes em certas áreas podem cometer erros e deixar passar fatos importantes, por ignorância, ao fazerem incursões em outras áreas. “Os recém-chegados de outros campos, que em geral se enfiam com os dois pés sem o treino e a experiência exigidos, passam a gerar novas ideias que consideram – por causa do sucesso que obtiveram em seu próprio campo – revolucionárias”. O problema é que, na maioria dos casos, aquelas ideias já foram avaliadas anos ou até décadas antes – e foram rejeitadas por razões legítimas.


7. “Pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas porque têm capacidade para defender crenças às quais chegaram por razões não inteligentes”

Segundo Shermer, a maioria das pessoas constitui suas crenças por uma variedade de razões que não têm muita evidência empírica nem raciocínio lógico. Elas fazem suas escolhas segundo variáveis como a constituição genética, social, influência de familiares e amigos, experiências pessoais etc. 


“Selecionamos dentre a massa de dados aquilo que confirme mais as coisas em que já acreditamos e ignoramos ou racionalizamos o que não vem confirma-las. Todos fazemos isso, mas as pessoas inteligentes fazem melhor, seja por talento ou por estarem treinadas”, explica. Assim, elas também podem defender melhor suas crenças para si mesmas.


Fonte: Super Interesante