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8 de nov. de 2011

Recordar é viver


More Than Words

Há 20 anos um dos maiores sucessos musicais despontava no mundo: a canção "More Than Words", uma canção da banda Extreme, com acompanhamento do violão de Nuno Bettencourt e os vocais de Gary Cherone (vocal com harmonia de Bettencourt), foi lançado em 1990 no álbum Extreme II: Pornograffitti. Foi, de longe, o maior sucesso da banda, cuja batida de violão de Bettencourt foi imitada por todo o mundo, sem falar no solo no final da canção. 
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A letra da canção é um pedido de que se demonstra amor para além das palavras. O sujeito gosta de ouvir da pessoa amada o "Eu te amo", mas ele quer mais do que palavras, ele quer demonstrações concretas desse afeto, de tal modo que ele não precisaria mais ouvir a declaração verbal do amor. 
A canção, em seguida, apela para dizer que não se pode simplesmente renovar um amor com um singelo "eu te amo", pois é preciso mais do que palavras para mostrar que o amor é real. 
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Na segunda estrofe, o eu-lírico sugere algo mais do que palavras, o fechar os olhos, o estender das mãos, o abraçar forte, que, se por um lado sugere a concretização física do amor, por outro pode ser visto de uma maneira mais singela e simbólica, em que o "Close your eyes and just reach out your hands/And touch me, hold me close don't ever let me go" é uma exultação à aproximação do ser amado, um convite à cumplicidade...
Interessante é que cada vez é mais fácil dizer "eu te amo" embora seja cada vez mais difícil ver esse amor se concretizar em gestos genuínos de afeto, que revelam mais do que qualquer manifestação verbal. 
A letra:
Saying 'I Love you'
Is not the words I want to hear from you
It's not that I want you not to say
But if you only knew
How easy it would be to show me how you feel
More than words
Is all you have to do to make it real
Then you wouldn't have to say
That you love me 'cause I'd already know

What would you do if my heart was torn in two?
More than words to show you feel
That your love for me is real

What would you say if I took those words away?
Then you couldn't make things new
Just by saying 'I love you'

More than words
Now that I've tried to
Talk to you and make you understand
All you have to do is
Close your eyes and just reach out your hands
And touch me, hold me close
Don't ever let me go

More than words
Is all I ever needed you to show
Then you wouldn't have to say
That you love me 'cause I'd already know

What would you do if my heart was torn in two?
More than words to show you feel
That your love for me is real

What would you say if I took those words away?
Then you couldn't make things new
Just by saying 'I love you'


Armário (Zeca Baleiro). Uma divertida e inteligente música sobre o universo Gay

Estava ouvindo o novo disco de Zeca Baleiro, Concerto, um álmbum acústico, cujo repertório foi discutido e votado pelos fãs, com a palavra final do próprio Zeca. Das músicas escolhidas pelos fãs, a mais votada foi justamente armário, que Zeca define como "Uma canção-piada sobre o universo gay".
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A música tem uma temática gay, bem-humorada e exclusiva desse universo... que é o convite de um dos membros do casal para que o outro saia do armário e assuma o romance... o armário, que é o universo do gay enrustido, é associado pelo parceiro como lugar de "bolor e adrenalina", enquanto fora do armário, quando o gay se assume como tal, a vida é cheia de "calor e adrenalina".
Só que o outro não consegue assumir, pelo medo "absurdo", que entra em contraste com o desejo pelo outro. Só que, nesse aspecto, o medo supera, seja dos vizinhos, da família, e do toque bem-humorado do "irmão que já foi skinhead"...
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E como forma de conciliar a felicidade de estar vivendo um amor gay com a preservação de uma imagem, a música termina com um convite de que o ser amado entre no armário e viva ali....
Claro que a música é uma meio-piada, divertida, bem-humorada, mas é certo também que envolve uma das questões mais delicadas do universo gay, que é a saída do armário, isto é a assunção pública da sua condição, e a pressão de um deles (que certamente já saiu do armário) de que o outro assuma publicamente o romance.
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O certo é que, mesmo com todo toque de humor, que torna a música bem divertida, com um arranjo que lembram os boleros e as músicas bregas da década de 70, a música é bem escrita e inteligente. Vale a pena se divertir ouvindo.... 
Lembro quando você me falou,
dentro do armário,
só tem bolor e naftalina.
Vem já pra fora, meu bem,
que só aqui é que tem,
calor e adrenalina.
Voltei pra casa,
parei na porta,
pensei um pouco...
Nem morta!
Não posso, não posso,
já falei que eu não posso,
não é que eu não queira,
mas é tão difícil pra mim.
É claro que eu quero,
quero mais que tudo,
mas sinto tanto medo,
um medo absurdo!
Medo dos vizinhos,
medo da mommy,
medo do daddy,
e do meu irmão,
que já foi skinhead.
Oh, meu amor,
ninguém me faz tão feliz,
ninguém me fez tanto bem...
Mas já que eu não posso sair do armário,
peço que você entre no armário também...

Soneto do teu corpo

O soneto do teu corpo é uma parceria de Leoni e Paulinho Moska, dois bons compositores... a escolha do soneto decassílabo (dois quartetos, dois tercetos com versos que se intercruzam e a métrica de dez sílabas em cada estrofe) já mostra que é uma poesia em forma de canção, uma poesia sobre o desejo...
Gosto das composições de Leoni, como também de Paulinho Moska, que são cantores e compositores num mundo em que cada vez mais há menos cantores com uma proposta musical além de cantar músicas fáceis e virar objeto de desejo (não há nada de errado nisso, mas a mídia não dá muito espaço a novos cantores com uma proposta musical diferenciada). E nem sei porque falo disso, pois Leoni já vai fazer 30 anos de estrada, e Paulinho Moska já passou dos 40.
Mas os versos são muito bem feitos e construídos, em que o corpo se harmoniza com o desejo, na primeira estrofe, vem o todo, o desejo por inteiro da pessoa amada, como uma viagem, para, nas estrofes seguintes, continuar a viagem que começa pelos pés, como porta de entrada para o conquistar e o desvendar o coro todo...
Os sujeitos soltos, ambos livres, despidos e despudorados, em que o desejo inebria, como se a letra do poema sussurrasse, e a canção fosse a cama em que as metáforas de desejo, com uma carga altamente erótica, se manifestam.
Há tesão e intimidade sexual, percebe-se que não há pressa, como se o desejo tivesse a noite inteira ou a vida inteira para descobrir cada curva, cada monte, cada vale ou caverna do ser amado, em que a liberdade consiste em perder-se no desejo.

Soneto do teu corpo
(Leoni / Moska)

Juro beijar teu corpo sem descanso
Como quem sai sem rumo prá viagem.
Vou te cruzar sem mapa nem bagagem,
Quero inventar a estrada enquanto avanço.

Beijo teus pés, me perco entre teus dedos.
Luzes ao norte, pernas são estradas
Onde meus lábios correm a madrugada
Pra de manhã chegar aos teus segredos.

Como em teus bosques. bebo nos teus rios.
Entre teus montes, vales escondidos.
Faço fogueiras, choro, canto e danço.

Línguas de lua varrem tua nuca.
Línguas de sol percorrem tuas ruas.
Juro beijar teu corpo sem descanso.


Se é por falta de adeus

Estava ouvindo o disco de João Gilberto ao vivo, e me deparei com uma canção cuja letra escapa um pouco ao seu estilo: "Se é por falta de adeus"... me surpreendi quando percebi que se tratava de uma música de Tom Jobim, feita em 1955 (então, um novato Tom Jobim), com uma cantora cujo nome de batismo era Adileia da Silva Rocha, mas conhecida nacionalmente como Dolores Duran.
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Segundo o Dicionário Houaiss Ilustrado da Música Brasileira, "Se é por falta de adeus" foi a primeira letra de Dolores Duran, que se notabilizou como grande cantora de sambas-canções (na verdade, o samba-canção é o bolero brasileiro).
Ruy Castro, na sua obra de referência sobre a bossa nova, conta que Dolores Duran (assim como Maysa e Sylvinha Telles) se meteu em grandes encrencas, sofreu por amor mais do que devia, bebia como se a reserva de álcoool do planeta fosse acabar no dia seguinte e morreu muito jovem.
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Nessa linha, "se é por falta de adeus"  é uma letra de Dolores para uma bela melodia de Jobim, na qual, segundo Ruy Castro, era a primeira gota no "mar de lágrimas que ela iria derramar nas músicas seguintes"
Se é por falta de adeus é uma música de quem desiste. Não por falta de amor, mas por desamor do outro. O personagem percebe todos os sinais externos da ausência de amor, sobretudo aquilo que os olhos, que "vivem dizendo o que você teima em querer esconder". O mundo, a tarde, a vida, tudo parece chorar com a constatação do fim do amor. 
O eu-lírico se recusa a viver uma ilusão e pede, quase suplica para o outro partir, pois não aguenta mais o sofrimento na presença do ser amado sem amor. Curioso que a palavra "amor" não está na letra, certamente porque a música é a constatação e o triste conformismo com o desamor percebido e com o qual não se quer mais conviver.
Música triste, como foi a vida amorosa de Dolores Duran, que morreu na madrugada de 23 de outubro de 1959, após realizar uma apresentação na boate Little Club. A cantora chegou em casa às sete da manhã do dia 24. Beijou muito a filha adotiva, já com 3 anos. Em seguida, passou os últimos cuidados à empregada Rita: "Não me acorde. Estou cansada. Vou dormir até morrer", disse brincando. No quarto, sofreu um infarto fulminante e, aos 29 anos, deu adeus à vida...    

A letra: 
Se é por falta de adeus
Vá se embora desde já
Se é por falta de adeus
Não precisa mais ficar
Seus olhos vivem dizendo
O que você teima em querer esconder
A tarde parece que chora
Com pena de ver
Este sonho morrer
Não precisa iludir
Nem fingir e nem chorar
Não precisa dizer
O que eu não quero escutar
Deixe meus olhos vazios
Vazios de sonhos
E dos olhos seus
Não é preciso ficar
Nem querer enganar
Só por falta de adeus


"E agora, José". Drummond musicado por Paulo Diniz

Já escrevi aqui sobre a música "Bandeira", composta por Zeca baleiro em homenagem ao pema "Belo Belo", de Manuel Bandeira. Os Secos & Molhados também se tornaram famosos por muiscar poemas, como "Rosa de Hiroshima" e "Rondo do capitão". Quero aqui, no entanto, fazer uma referência a um poema musicado que se tornou histórico: "E agora, José", de Drummond, que foi musicado por Paulo Diniz.
E agora, josé?
A festa acabou,
A luz apagou,
O povo sumiu,
A noite esfriou,
E agora, josé?
E agora, você?
Você que é sem nome,
Que zomba dos outros,
Você que faz versos,
Que ama, protesta?
E agora, josé?
Está sem mulher,
Está sem carinho,
Está sem discurso,
Já não pode beber,
Já não pode fumar,
Cuspir já não pode,
A noite esfriou,
O dia não veio,
O bonde não veio,
O riso não veio
Não veio a utopia
E tudo acabou
E tudo fugiu
E tudo mofou,
E agora, josé?
Sua doce palavra,
Seu instante de febre,
Sua gula e jejum,
Sua biblioteca,
Sua lavra de ouro,
Seu terno de vidro,
Sua incoerência,
Seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
Quer abrir a porta,
Não existe porta;
Quer morrer no mar,
Mas o mar secou;
Quer ir para minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
Se você gemesse,
Se você tocasse
A valsa vienense,
Se você dormisse,
Se você cansasse,
Se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro, josé!
Sozinho no escuro
Qual bicho-do-mato,
Sem teogonia,
Sem parede nua
Para se encostar,
Sem cavalo preto
Que fuja a galope,
Você marcha, josé!
José, para onde?
Você marcha José, José para onde?
Marcha José, José para onde?
José para onde?
Para onde?
E agora José?
José para onde?
E agora José?
Para onde?   
Ela foi gravada em 1974, num momento em que o Brasil vivia anos tristes de ditadura. O poema musicado por Paulo Diniz bateu duro e forte... um poema próprio de um fim de esperança, e que a crítica musical torcia o nariz porque se dizia que Paulo Diniz não seria competente para musicar tão belo poema. A melhor resposta veio pelo próprio Drummond, que disse não conseguir mai pensar em seu poema, desvinculado da melodia de Paulo Diniz.
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Segue aqui um trecho de entrevista com paulo Diniz, comentando a música: 
JC - Você musicou poemas de vários poetas famosos, mas o que ficou mais conhecido foi José, de Carlos Drummond, você chegou a falar com ele para colocar a melodia? Ela depois foi censurada também?
PD - Houve uma censura velada, mas nunca foi oficialmente proibida. Nunca conversei com Drummond sobre ela, falei apenas com a filha dele, que era sua secretária, quando enviei o disco. O que me envaideceu muito foi um comentário que ele fez no jornal. Drummond escreveu que depois que ouviu José com a melodia não conseguia mais ler o poema sem cantar a música.
Paulo Diniz merece ser olhado com mais atenção... 


http://celitocatito.blogspot.com/2008_10_01_archive.html


Fonte - musicblog
blogorama