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22 de dez. de 2010

Canto impassivel a solidão!...


Hoje estou só,
perfeitamente só.

No vazio apartamento, nada desejo senão esta solidão
receio mesmo encontrar-me e surpreender-me com os
   [restos de algum naufrágio cotidiano.

Não serviria vinho ao amigo que nesta hora fosse
[apenas um intruso
não sorriria ao amor, cujo carinho seria apenas um
  [irritante contacto,
fechei todos os livros, silenciei-os como túmulos
nem desejo ressuscitar fantasmas em meu branco
   [pensamento.
Hoje estou só,
deixei que o tempo passasse para que pudesse
   [encontrar-me
sem perturbação,
preparei-me para abrir a janela sobre abismos sem
  [perturbar-me a vertigem
das alturas.

Nem mesmo a música, essa alma da criação, esse halo
   [das coisas
poderia chegar aos meus ouvidos, sem bater como uma
    [estranha.

Hoje estou só, perfeitamente só, conscientemente só
como um rochedo no alto mar
orgulhoso do meu egoísmo e da minha força, satisfeito
    [como um deus,

criando a minha música e me divertindo.

E percebo deslumbrado
que nunca estarei só
nem nunca temerei a solidão
como o resto dos homens.