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24 de nov. de 2011

Os Três Aspectos do Espiritismo




Eu costumo dividir o Espiritismo em três aspectos básicos: a parte moral , contida no O Evangelho Segundo o Espiritismo (a mais essencial de todas, alicerçada nos ensinamentos morais de Jesus contidos nos 4 evangelhos bíblicos e comentada nessa obra pelos espíritos), a parte onde se ensina como exercer de forma segura a mediunidade embasada no O Livro dos Médiuns. Essas duas partes, embasadas nesses dois livros, são a base imutável do Espiritismo, da Doutrina dos Espíritos, pois sem a busca da reforma moral de atitudes e sem a busca do desenvolvimento mediúnico com segurança, responsabilidade e nobres objetivos certamente não se formarão bons médiuns. A terceira parte constitui o estudo das comunicações espirituais em si, na busca  do progresso moral e intelectual, para que assim se atinja o progresso espiritual e o melhor aproveitamento do espírito encarnado da oportunidade evolutiva que tem na presente encarnação terrestre. Nas cinco obras da codificação, o estudo dessas comunicações constitui o tema principal do O Livro dos Espíritos (base filosófica da Doutrina dos Espíritos), O Céu e o Inferno e A Gênese, sendo que na verdade essas três obras são a introdução ao estudo embasado nas comunicações mediúnicas, são, portanto, os tijolos que vão sendo acrescentados ao edifício espírita. Podemos observar claramente que dentre esses tijolos estão às obras de Chico Xavier e de vários outros médiuns.

Temos, portanto nas três partes: a busca pela reforma moral, o estudo da mediunidade e o estudo das comunicações mediúnicas. 


Podemos observar isso em algumas passagens dos 5 livros da codificação e algumas do próprio Kardec:

"O Espiritismo é, pois, a doutrina fundada na existência, nas manifestações e no ensinamento dos Espíritos. Esta doutrina acha-se exposta de maneira completa no Livro dos Espíritos, em seu aspecto filosófico, no Livro dos Médiuns, em sua parte prática e experimental, e no Evangelho Segundo o Espiritismo, em seu aspecto moral”. (O Espiritismo na sua mais simples expressão - Allan Kardec)

O verdadeiro espírita não é o que crê nas comunicações, mas o que procura aproveitar os ensinamentos dos Espíritos. De nada adianta crer, se sua crença não o faz dar sequer um passo na senda do progresso, e não o torna melhor para o próximo”. (O Espiritismo na sua mais simples expressão – Allan Kardec)

"O Espiritismo, como doutrina moral, só impõe uma coisa: a necessidade de fazer o bem e evitar o mal. É uma ciência de observação que, repito, tem consequências morais que são a confirmação e a prova dos grandes princípios da religião; quanto às questões secundárias, ele as abandona à consciência de cada um”. (O que é o Espiritismo - Allan Kardec)

"O Espiritismo funda-se na existência de um mundo invisível, formado pelos seres incorpóreos que povoam o espaço e que não são mais que as almas daqueles que viveram na Terra, ou em outros globos, nos quais deixaram seus invólucros materiais. São os seres a que chamamos Espíritos, seres que nos cercam e incessantemente exercem sobre os homens sem que estes o percebam, uma grande influência" (O que é o Espiritismo - Allan Kardec)

"O Espiritismo tem por fim demonstrar e estudar a manifestação dos Espíritos, suas faculdades, sua situação feliz ou infeliz, seu futuro; em suma, o conhecimento do Mundo Espiritual." (O que é o Espiritismo - Allan Kardec)

"Como meio de elaboração, o Espiritismo procede exatamente da mesma maneira que as ciências positivas, isto é, aplica o método experimental. Fatos de ordem nova se apresentam que não podem ser explicados pelas leis, conhecidas; ele os observa, compara, analisa e, partindo dos efeitos às causas, chega à lei que os rege, depois deduz as conseqüências e busca as aplicações úteis. O Espiritismo não estabeleceu nenhuma teoria preconcebida; assim, não se apresentam como hipótese nem a existência e a intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem qualquer dos princípios da doutrina; conclui-se pela existência dos Espíritos porque essa existência resultou como evidência da observação dos fatos; e assim os demais princípios. Não foram dos fatos que vieram posteriormente confirmar a teoria, mas foi a teoria que veio subsequentemente explicar e resumir os fatos. Rigorosamente exato, portanto, dizer que o Espiritismo é uma ciência da observação e não o produto da imaginação" ( A Gênese capitulo 1, item 14)


"O Espiritismo é, ao mesmo tempo uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as conseqüências morais que dimanam essas mesmas relações”. (O que é o Espiritismo)

"Do ponto de vista religioso o Espiritismo tem por base as verdades fundamentais de todas as religiões: Deus, a alma, a imortalidade, as penas e as recompensas futuras, sendo, porém, independente de qualquer culto em particular. Seu objetivo é provar àqueles que negam, ou que duvidam que a alma exista que ela sobrevive ao corpo e que sofre, após a morte, as conseqüências do bem e do mal que praticar durante a vida corpórea: o objetivo de todas as religiões”. (O Espiritismo na sua mais simples expressão - Allan Kardec)

"O Espiritismo, firmado no conhecimento de leis ainda não compreendidas, não vem destruir os fatos religiosos, mas torná-los mais aceitáveis, dando-lhes explicação racional. O que ele vem destruir são as falsas deduções daquelas leis, por erro ou ignorância”. ( Obras Póstumas - Allan Kardec)

"Assim, como o Cristo disse: “Não vim destruir a lei, porém cumpri-la”, também o Espiritismo diz: “Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução”. Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas, desenvolve completa e explica em termos claros e para toda gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica. Vem cumprir e preparar a realização das coisas futuras." (O Evangelho Segundo o Espiritismo capítulo 1, item 7)


Outra questão muito interessante é quanto ao entendimento de que o Espiritismo é uma religião. No sentido atual que vemos  ter se transformado a religião , baseada em liturgias, cerimônias sacerdotais e vestes especificas, certamente podemos dizer que o Espiritismo não é religião , mas caso apliquemos o sentido original da palavra religião , o religare, a busca da conexão do homem a sua essência interna ( espírito) para assim buscar sinceramente a evolução espiritual e Deus, então sim, podemos entender que no seu sentido original a palavra religião expressão o caráter da doutrina Espírita. Vejamos o que Kardec disse no discurso realizado na sociedade espírita de Paris em novembro de 1868 e publicado um mês depois na revista Espírita:

"Dissemos que o verdadeiro objetivo das assembléias religiosas deve ser a comunhão de pensamentos; é que, com efeito, a palavra religião quer dizer laço. Uma religião, em sua acepção nata e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunidade de sentimentos, de princípios e de crenças. O laço estabelecido por uma religião, seja qual for o seu objetivo, é, pois, um laço, um laço essencialmente moral, que liga os corações, que identifica os pensamentos, as aspirações, e não somente o fato de compromissos materiais, que se rompem à vontade, ou da realização de fórmulas que falam mais aos olhos do que ao espírito

Se assim é, perguntarão então o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza. Porque, então, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Porque não há uma palavra para exprimir idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; desperta exclusivamente uma idéia de forma, que o Espiritismo não tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria aí senão uma nova edição, uma variante, se quiser, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com seu cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das idéias de misticismo e dos abusos contra os quais tantas vezes se levantou a opinião pública”.

Kardec exprime muito bem nesse discurso que o Espiritismo não deve se ater a formulas que falem mais aos olhos ( exterior) do que ao espírito (interior). O caráter essencial do Espiritismo está na busca do intercambio mediúnico, para que assim novas informações dos espíritos amigos cheguem e enriqueçam a Doutrina dos Espíritos, no seu aspecto intelectual e moral, pois certamente há de se compreender que o conhecimento sobre o mundo invisível e dos espíritos também evolui, dessa forma torna-se impossível querer restringir o Espiritismo as obras do Pentateuco ou de alguns poucos médiuns. O próprio Chico Xavier foi muito combatido por muito espíritas quando lançou o livro “Nosso Lar” e até os dias de hoje muitos “espíritas” não aceitam as obras dele, considerando Andre Luiz e Emmanuel obsessores do saudoso médium. Esses “espíritas” são conhecidos na doutrina como os ortodoxos, por tentarem transformar o Pentateuco Espírita numa Bíblia imutável e Kardec no supremo papa infalível e "sacerdote mor" do Espiritismo.

Levando em conta o discurso de Kardec em 1868 e o sentido atual que as pessoas têm da palavra religião, podemos compreender que o Espiritismo é muito mais uma Doutrina nos dias de hoje, palavra que talvez se encaixe melhor, pois a religião no sentido original da palavra acabou por ser deturpado pelas práticas “religiosas” das Igrejas Cristãs, transformando o Cristianismo Primitivo de encontros e reuniões simples, em humildes casas (eklesia) ou ao ar livre, como os sermões de Jesus e dos apóstolos as mais diversas comunidades, transformados em cultos e cerimônias litúrgicas em templos suntuosos, com vestes especificas e uma preocupação muito maior com o culto material e cerimonial do que a busca sincera pela espiritualidade interior.

O Espiritismo em seu caráter é progressista, o progresso faz parte da sua essência filosófica, ou seja, as informações advindas do mundo espiritual estão em constante processo de evolução, ate porque o próprio mundo invisível e os espíritos que nele habitam também evoluem, progridem. Se os espíritos superiores não desejassem que novos conhecimentos da vida espiritual chegassem ao homem , não teriam dedicado um livro inteiro pra ensinar como se deveria realizar essa comunicação, entre espíritos encarnados e desencarnados. O Espiritismo deve, portanto, evoluir sempre, mantendo sua base moral alicerçada no evangelho de amor de Jesus e mantendo sua base de estudos mediúnicos alicerçados no O Livro dos Médiuns, mas jamais deve engessar o conhecimento do mundo espiritual aos 5 livros do Pentateuco Espírita ou de meia dúzia de médiuns considerados espíritas. 



O Espiritismo, doutrina dos espíritos, é o conhecimento básico da vida espiritual paraa todas as pessoas, pois todos são médiuns em menor ou maior grau e assim como as pessoas devem evoluir, deve também evoluir na sua estrutura de informações e conhecimentos a cerca da vida espiritual, dos espíritos e das colônias espirituais. A codificação não detém toda a verdade a cerca do mundo dos espíritos, mas tão somente a base, o pilar fundamental, que deve ser cuidado e inclusive reparado, para que o edifício onde está alicerçada a Doutrina Espírita permanece sempre firme, forte e, sobretudo, atualizado, evoluindo constantemente.

Kardec acentua esse caráter progressista:

"O Espiritismo, caminhando com o progresso, não será jamais ultrapassado, porque se novas descobertas lhe demonstrarem que estava no erro sobre um ponto, modificar-se-á sobre esse ponto; se uma nova verdade se revela, ele a aceita." (A Gênese, página 44 ou 45 dependendo da edição)

"Os Espíritos, por força da diferença existente em suas capacidades, estão longe de estar individualmente na posse de toda a verdade" (Revista Espírita 1864)

"A doutrina não foi de forma alguma ditada integralmente." (A Gênese capítulo 1, item 13)

"Não se contentem em dizer que isso não é assim, pois seria muito fácil; provem, não pela negação, mas pelos fatos, que isso não existe que nunca foi e não pode ser; se não existe, digam, sobretudo, o que haveria em seu lugar" (O Livro dos Espíritos, conclusão, item 5)

"Qual é o homem que pode gabar-se de possuir tudo, quando o círculo dos conhecimentos cresce sem cessar, e as idéias se retificam a cada dia?" (Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 15)

"O Espiritismo não coloca como princípio absoluto senão o que está demonstrado como uma evidência, ou o que ressalta logicamente da observação.” (A Gênese, capítulo 1, item 55)

"Quem creia que tudo em nós não é só matéria, é Espiritualista, o que não implica, de nenhum modo na crença nas manifestações dos Espíritos. As manifestações espíritas são produzidas pela ação dos Espíritos sobre a matéria. – A moral espírita decorre do ensinamento dado pelos Espíritos. – Há espiritualistas que ridicularizam as crenças espíritas." ( O Livro dos Médiuns, capítulo 32, Vocabulário Espírita)

"Espiritualismo: Diz-se no sentido oposto ao do materialismo. Crença na existência do espírito, que existe outra coisa em si além da matéria. O espiritualismo é a base de todas as religiões." ( O Livro dos Médiuns, capítulo 32, Vocabulário Espírita)

Kardec em Obras Póstumas diz o que é Espírita:

"É Espírita, todo aquele que crê na;

- Pluralidade de existências;
- na pluralidade de mundos habitados;
- na transmigração das almas (espíritos);
- nas Leis de Causa e Efeito
- na reencarnação como justiça divina;
- e sob essa ótica pautar a sua reforma íntima.


Ou seja, todo aquele que crê nos itens acima e crê também  na manifestação dos Espíritos (comunicação com os desencarnados através da mediunidade) é um Espírita.

De posse dessas informações, que todo o espírita busque estudar, analisar, conhecer, comparar os diversos conhecimentos da espiritualidade que chegam através de vários médiuns, não apenas os considerados espíritas e suas obras, como o Pentateuco Espírita ou os livros de Chico Xavier, mas também as informações que chegam através da Umbanda, da Apometria, de Ramatís, pois todo médium que milita junto a espiritualidade buscando desenvolver com segurança sua mediunidade nas bases do O Livro dos Médiuns e sobretudo busca esse intercambio com nobres motivos, não pode ser considerado “não espírita”. Já está mais do que na hora da Doutrina dos Espíritos quebrar as barreiras e separatismos criados pelos homens, pois os espíritos superiores trabalham, ajudam, e utilizam os médiuns independente se alguém os nomeia “espíritas”, “apômetras” ou “umbandistas”. Já está mais na hora de cada pessoa assumir a busca pelo conhecimento espiritual, não delegando isso a entidade ou federação, pois o controle universal do ensino dos espíritos cabe única e exclusivamente a cada pessoa, na própria busca interior pela evolução intelectual e moral desejando a evolução espiritual:   



"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar as suas más inclinações"