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30 de abr. de 2012

Liberdade



Nos dias de hoje, somos confrontados pelos nossos líderes e representantes de Estado com os conceitos de “liberdade” e “terror”. Isto é, com o dualismo entre ambos, simplificando, o “bem” e o “mal”. Não querendo aprofundar muito os aspectos comprovadamente limitativos de uma visão dualista com este texto (que talvez faça numa próxima oportunidade), vou focar-me sim no conceito de “liberdade” que é, sempre, servido às massas como estando do nosso lado, no nosso modelo de sociedade.

É notório imediatamente que, se a “liberdade” está connosco e outros “pobres desgraçados” não a têm devido ao seu modelo social e/ou religioso, que a “liberdade” é portanto um aspecto atingível apenas por aqueles que têm a sorte de viver no tal país ou sistema. Não sendo esse também o propósito, prossigo verificando que neste conceito de “liberdade”, existem barreiras intransponíveis à consideração e estudo cultural, ou sejam, tabus. Uma das primeiras questões que se deve analisar é que se são colocadas barreiras à consideração social, o conceito de liberdade morre. Isto porque, no dicionário:



Liberdade

do Lat. libertate

s. f., faculdade de uma pessoa poder dispor de si, fazendo ou deixando de fazer por seu livre arbítrio qualquer coisa;

gozo dos direitos do homem livre;

independência; autonomia; permissão; ousadia;

(no pl. ) regalias; (no pl. ) privilégios; (no pl. ) imunidades.

- de consciência: direito de emitir opiniões religiosas e políticas que se julguem verdadeiras;

- de imprensa: direito concedido à publicação de algo sem necessidade de qualquer autorização ou censura prévia, mas sujeito à lei, em caso de abuso;

- individual: garantia que qualquer cidadão possui de não ser impedido de exercer e usufruir dos seus direitos, excepto em casos previstos por lei.

Ora, se liberdade (sem aspas) inclui «direito de emitir opiniões religiosas e políticas que se julguem verdadeiras», porque existem assuntos vedados à liberdade? Casos do Holocausto, do 11 de Setembro e outros, que, para além de serem vedados por autoridades oficiais de Estados a pública consideração e análise de estudos alternativos e imparciais sérios, são inundados com propaganda deturpante que visa não só descredibilizar esses eventuais estudos sérios como também reescrever a história com a versão vigente. Isto não é nada de novo e já está claramente apresentado neste site.

Focando-me agora na liberdade (conforme o dicionário a descreve) e especialmente no aspecto importante do «direito de emitir opiniões religiosas e políticas que se julguem verdadeiras», faço uma pergunta: porque nos esquecemos, século após século, que é a intolerância do pensamento e não da acção a fonte da nossa ausência de liberdade total, de uma liberdade sem aspas, barreiras ou limites?

Passo a explicar: o ser humano é gregário. Assim, tem uma tendência natural quase irresistível de esforçar-se por ser aceite no seio do grupo onde nasce ou para onde se mude. Se nesse grupo existir um conjunto de regras filosóficas ou estruturas de pensamento, a pessoa nova tenderá a assimilá-los tentando inconscientemente recolher o prémio da aceitação. Ou então, se surgir numa nova comunidade acompanhado de pessoas suficientes com quem possa manter os hábitos diferentes – sendo este também um caso de procura de aceitação, quando não no todo da sociedade, na parte mais imediata e próxima. Temos disto demasiados exemplos na História e mais que suficientes estudos psicológicos humanos para sequer ter de deixar um exemplo.

Assim, a sociedade, sendo feita de indivíduos, tem tendência a absorver e assimilar para uma determinada forma de pensar os que são mais fracos de consciência e de deixar-se, gradualmente, transformar para os moldes filosóficos dos mais fortes de consciência e mais carismáticos (aqueles que quebraram a barreira social da igualdade massificada). Assim sendo, será tão difícil compreender que, se são os diferentes que se tornam importantes para todos nós, tentar castrar essas diferenças à nascença é limitar-nos e aprisionar-nos? Note-se que as pessoas actualmente no Poder (as verdadeiramente no Poder, não significando portanto necessariamente os líderes de Estado), tiveram de ser diferentes e clandestinos no seu interior perante a sociedade a dada altura. Foi essa clandestinidade a génese de grupos secretos que visavam manter uma visão do mundo longe do braço da autoridade social vigente.

Hoje em dia, incita-se o orgulho pessoal na visão social para que as pessoas, por esse orgulho, não aceitem considerar opiniões divergentes. É no entanto nessa diversificação de opiniões que a humanidade tem encontrado os seus momentos mais felizes. É na troca de ideias e visões saudável que o ser humano encontra o Amor pelo próximo e não na perspectiva hipócrita da tolerância exterior – porque é no individuo, no elemento do todo, que tudo começa.

Não esqueçamos que o maior Império de todos os tempos, o império britânico, foi justificado pela ideia “altruista” de “espalhar a civilização pelos selvagens”. Até que um psicólogo britânico teve a ousadia de afirmar que “os selvagens são mais felizes do que nós”.

Não deverei deixar de fora desta exposição o factor Medo. O Medo está sempre presente nas sociedades ao longo dos tempos e é a maior força limitadora que o Homem enfrenta. Seja o medo de uma divindade, o medo do que os outros pensam de nós, o medo de demolir a nossa concepção da realidade ou o medo da autoridade. Somos, enquanto cidadãos de uma sociedade hierárquica, claramente sempre escravos desse medo. Por isso é que os “sem medo” são vistos como mártires ou heróis e são também por norma mastigados pelo sistema vigente numa dada sociedade. Existem também os heróis “oficiais”, aqueles que são usados pela sociedade como exemplos e símbolos da “liberdade” social, mesmo que a sua verdadeira convicção tenha sido deturpada para esse fim. Por este último tipo de heróis (que posso apelidar de “heroísmo escravo”) é que o poeta Reinaldo Ferreira escreveu a sua “Receita para fazer um herói”:

Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.

Serve-se morto.

Serão estes os verdadeiros heróis? A meu ver, certamente que não. O herói numa sociedade é aquele que não tem medo de questionar, de olhar para diferentes pontos de vista e de com isso, enriquecer a Humanidade, mesmo que a sua visão seja “satanizada”. Um herói é aquele que, por se ter libertado das ideias impostas pelo meio, se torna capaz de dispôr de si e fazer alguma coisa em prol da liberdade do seu semelhante.

A “satanização”, que provém de uma visão maniqueísta muito antiga, é e tem sido bastante utilizada como método de controlo do povo. Se alguma opinião ou pergunta ou etnia ou seja o que for (que doravante abreviarei para “coisa”) é inconveniente ao poder actual de uma sociedade, basta “satanizar-se” essa “coisa” e o povo tratará de, por medo do “mal” e da autoridade, persegui-la ou no mínimo evitá-la. Assim, bastará que prestemos atenção a nós próprios e a quem nos rodeia com um espírito de observação imparcial e aberto, para verificar estes pontos:

• Se não gosto dela é porque considero essa “coisa” um “mal”?

• Quem tem a ganhar com o facto de eu não gostar dessa “coisa”?

• Que motivações e fundamentos terá essa “coisa” para existir?

• Que efeito tem essa “coisa” no individuo (sim, individuo e não sociedade, porque a sociedade começa no individuo)?

Prestando atenção a estas perguntas quando avaliamos as nossas próprias opiniões acerca de algo, conseguiremos liberdade (sem aspas) interior e capacidade de tolerância verdadeira, o que despertará Amor pelo próximo (o tal que tem vindo a ser dualisticamente apresentado, com as limitações já consideradas).

Portanto, em vez de hipocritamente se tolerar exteriormente “coisas”, devemos compreendê-las, fazer-nos as perguntas devidas e encontrar aí a tolerância interior primeiro. O movimento da natureza é sempre de expansão, ou seja, de dentro para fora… e a mudança da sociedade começa sempre no individuo.


     O preço da liberdade um documentário sobre a África do Sul