Esse é um trecho de
uma entrevista com os autores: Michael A. Cremo e Richard L. Thompson
sobre um importante livro lançado por eles, cujo titulo é:
“A História Secreta
da Raça Humana”, ou simplesmente: “Arqueologia proibida”.
A história secreta da raça humana - Introdução do livro
Em 1979, pesquisadores em Laetoli, Tanzania,
em um sítio da África Oriental descobriram pegadas em depósitos de cinza
vulcânica com idade superior a 3,6 milhões de anos. Mary Leakey e outros
disseram que as pegadas eram indistingüíveis das humanas atuais. Para estes
cientistas, isso apenas significa que os ancestrais do homem de 3,6 milhões de
anos atrás tinham pés incrivelmente modernos. Mas, de acordo com outros cientistas,
como o antropólogo físico R.H. Tuttle da Universidade de Chicago, ossos
fósseis dos australopithecos conhecidos de 3,6 milhões de anos atrás
demonstram que eles tinham pés que eram claramente próximos dos pés de um
macaco. Assim, são incompatíveis com as pegadas de Laetoli. Em um artigo da
edição de março de 1990 da revista ‘Natural History’, Tuttle confessou que
“estamos frente a um mistério”. Parece admissível, portanto, considerar a
possibilidade que nem Tuttle nem Leakey mencionaram – que criaturas
com corpos humanos anatomicamente modernos, que combinassem com seus pés
humanos anatomicamente modernos, existiram há 3,6 milhões de anos atrás na
África Oriental. Talvez, como sugerido na ilustração da página oposta,
eles coexistiram com criaturas simiescas. Intrigante como possa parecer
essa possibilidade arqueológica, as idéias atuais sobre a evolução humana a
proíbem.
Pessoas sensatas irão alertar para a consideração da existência de humanos
anatomicamente modernos há milhões de anos com base, simplesmente, nas
pegadas de Laetoli. Mas há mais evidências. Durante as últimas décadas,
cientistas na África descobriram ossos fósseis que parecem consideravelmente
humanos. Em 1965, Bryan Patterson e W. W. Howells acharam um
úmero (osso do braço) surpreendentemente moderno em Kanapoi, Kenya. Os
cientistas avaliaram sua idade em 4 milhões de anos.
Henry M. McHenry e Robert S. Corruccini, da Universidade da Califórnia,
disseram que o úmero de Kanapoi era “dificilmente
distingüível do osso de um Homo sapiens atual”. Similarmente, Richard
Leakey disse que o fêmur ER 1481 do Lago Tukana, Kenya, achado em
1972, era indistingüível do de um humano moderno. Os cientistas
normalmente associam o fêmur ER 1481, que tem cerca de 2 milhões de anos,
ao pré-humano Homo habilis. Mas, desde que o ER 1481 foi achado
isoladamente, não se pode descartar a possibilidade de que o resto do esqueleto
fosse, também, anatomicamente moderno. De forma interessante, em 1913 o
cientista alemão Hans Reck descobriu, em Olduvai Gorge,
Tanzania, um esqueleto humano completo, anatomicamente moderno, em um
estrato de mais de um milhão de anos, gerando décadas de controvérsias. Aqui,
novamente, alguns nos alertarão para que não exagerarmos o valor de alguns
poucos e controversos exemplos em contraste com a grande quantidade de
evidências não controversas demonstrando que os humanos atuais evoluíram de
criaturas simiescas bastante recentemente – por volta de 100.000 anos para
cá, na África, e na visão de alguns, em outras partes do mundo também. Mas acontece
que não esgotamos nossas fontes com as pegadas de Laetoli, o úmero de
Kanapoi e o fêmur ER 1481. Pelos últimos oito anos, Richard Thompson
e eu, com a assistência de nosso pesquisador Stephen Bernath, acumulamos
um extenso corpo de evidências que desafia as teorias atuais sobre a evolução
humana. Algumas dessas evidências, como as pegadas de Laetoli, são bem
recentes. Mas boa parte delas foi registrada por cientistas no século dezenove
e começo do século vinte. E, como você pode ver, nossa discussão sobre essas
evidências podem constituir um livro muito grande.
Sem mesmo olhar para esse antigo conjunto de evidências, alguns assumirão que
deve haver algo errado com ele – que foi convenientemente descartado há muito
pelos cientistas, por razões muito boas. Richard e eu checamos bem essa
possibilidade. Concluímos, no entanto, que a qualidade dessas evidências
controversas não é melhor ou pior que as supostamente não controversas,
usualmente citadas em favor das atuais teorias sobre a evolução humana.
Mas “Arqueologia Proibida” é mais do que um bem documentado catálogo de fatos
não usuais. É, também, uma crítica sociológica, filosófica e histórica ao
método científico, da forma como é aplicado à questão das origens da
humanidade. Não somos sociólogos, mas nossa abordagem é similar à praticada
pelos adeptos da sociologia do conhecimento científico (SSK), como
Steve Woolgar, Trevor Pinch, Michael Mulkay, Harry Collins,
Bruno Latour, and Michael Lynch.
Cada um desses estudiosos tem uma perspectiva única da SSK, mas todos
provavelmente concordariam com o seguinte enunciado programático. As conclusões
dos cientistas não correspondem de forma idêntica aos estados e processos de
uma realidade objetiva natural. Ao invés, tais conclusões refletem os reais
processos sociais dos cientistas, mais do que o que acontece na natureza/meio
ambiente.
A abordagem crítica que fazemos em “Arqueologia Proibida” também assemelha-se à
usada pelos filósofos da ciência, como Paul Feyerabend, que afirma que a
ciência alcançou uma posição por demais privilegiada no campo intelectual, e
por historiadores da ciência, como J. S. Rudwick, que explorou em detalhes a
natureza da controvérsia científica. Como Rudwick, em “A Grande
Contovérsia Devoniana”, usamos a narrativa para apresentarmos nosso material,
que engloba não uma mas muitas controvérsias – controvérsias há muito
resolvidas, não resolvidas ainda e em formação. Para isso foram feitas muitas
citações de fontes primárias e secundárias, e fornecidas descrições detalhadas
das reviravoltas dos complexos debates paleoantropológicos. Para os que
trabalham com disciplinas relacionadas com as origens da humanidade e
antigüidade, “Arqueologia Proibida” provê um bem documentado compêndio de
relatórios livres das muitas referências atuais, não facilmente conseguido de
outra forma.
Um dos últimos autores a discutir o tipo de relatório achado em “Arqueologia
Proibida” foi Marcellin Boule. Em seu livro “Fossil Men” (1957),
Boule traz uma conclusão decididamente negativa. Mas, ao examinar os
relatórios originais, percebemos que o ceticismo de Boule não é
justificado. Em “Arqueologia Proibida”, fornecemos material oriundo de fontes
primárias que irão permitir aos leitores atuais formarem suas próprias opiniões
sobre as evidências que Boule desacreditou. Também introduzimos vários casos
que Boule deixou de mencionar.
Das evidências que colhemos, concluímos, algumas vezes em linguagem desprovida
do experimentalismo ritual, que as hipóteses atualmente dominantes sobre as
origens do homem necessitam de uma drástica revisão. Também concluímos que um
processo de filtragem de conhecimentos deixou os estudiosos com uma coleção de
fatos radicalmente prejudicada e incompleta.
Antecipamos que muitos estudiosos acharão em “Arqueologia Proibida” um convite
a discursos produtivos sobre (1) a natureza e tratamento das evidências no
campo das origens do homem e (2) as conclusões que podem ser mais logicamente
alcançadas a partir de tais evidências.
No primeiro capítulo da Parte I, pesquisamos a história e o atual estado em que
se encontram as idéias sobre a evolução do homem. Também discutimos alguns dos
princípios epistemológicos que usamos em nosso estudo nesse campo.
Principalmente, estamos interessados em duplo padrão no tratamento das
evidências. Identificamos dois principais corpos de evidências. O primeiro é um
conjunto controverso (A), que demonstra a existência de humanos
anatomicamente modernos no ‘não muito confortável’ passado distante. O
segundo é um conjunto de evidências (B) que pode ser interpretado como comportando
as atuais visões dominantes de que o homem evoluiu bem recentemente, de 100.000
anos para cá, na África, e talvez em outros lugares.Também identificamos
padrões empregados na avaliação das evidências paleoantropológicas. Depois de
um estudo detalhado, descobrimos que se estes padrões forem aplicados
igualmente para A e B, então devemos aceitar a ambos ou rejeitar a ambos. Se
aceitarmos tanto A quanto B, então temos evidências colocando humanos
anatomicamente modernos vivendo há milhões de anos atrás, coexistindo com
humanóides simiescos. Se rejeitarmos a ambos, eliminamos a
possibilidade de usarmos a base fática disponível para formularmos qualquer
hipótese sobre as origens do homem e a antiguidade. Historicamente, um
significativo número de cientistas profissionais já aceitou as evidências do
grupo A. Mas um grupo mais influente, que aplicou padrões mais rígidos a A do
que a B, estabeleceu a rejeição de A e a preservação de B como dominante. Esse
uso de padrões diferenciados para a aceitação ou rejeição de evidências
constitui um filtro de conhecimentos que obscurece a verdade sobre a evolução
humana. No corpo da Parte I (Capítulos 2-6), checamos a vasta quantidade de
evidências controversas que contradiz as idéias correntes sobre a evolução do
homem. Narramos em detalhes como elas foram sistematicamente suprimidas,
ignoradas ou esquecidas, mesmo sendo qualitativamente (e quantitativamente)
equivalentes às atualmente aceitas. Quando falamos em supressão de evidências,
não nos referimos a cientistas conspiradores levando a cabo um plano satânico
para enganar o público.
Ao contrário, falamos sobre a existência de um processo sociológico de
filtragem de conhecimento que aparenta ser bem inócuo mas que tem, em verdade,
um substancial efeito cumulativo. Certas categorias de evidências simplesmente
desapareceram, em nossa opinião injustificadamente.
O Capítulo 2 trata de ossos anormalmente antigos e conchas que exibem marcas e
sinais de ruptura intencional. Até hoje, cientistas consideram tais ossos e
conchas como uma importante categoria de evidências, e muitos sítios
arqueológicos foram estabelecidos com base apenas nesse tipo de achado. Nas
décadas posteriores à apresentação da teoria de Darwin, numerosos cientistas
descobriram ossos animais quebrados ou com incisões, e conchas sugerindo que
humanos que usavam ferramentas ou precursores dos humanos existiram no
Pliosceno (2-5 milhões de anos atrás), no Miosceno (5-25 milhões de
anos atrás), e até antes. Ao analisar os ossos e conchas, os descobridores cuidadosamente
consideraram e estabeleceram explicações alternativas – como a ação de animais
ou pressão geológica – antes de concluir que os humanos eram os responsáveis.
Em alguns casos, ferramentas de pedra foram achadas juntamente com os ossos e
conchas. Um exemplo particularmente impressionante nesta categoria é um concha
exibindo uma rude, porém reconhecível, face humana esculpida em sua superfície
externa. Registrada pelo ologista H. Stopes à
Associação Britânica
para o Avanço da Ciência em 1881, essa concha, de uma formação rochosa do
Pliosceno, na Inglaterra, tem mais de 2 milhões de anos.
De acordo com os padrões aceitos, humanos capazes de tal nível de artifício não
chegaram à Europa antes de 30.000 ou 40.000 antos atrás. Além disso,
eles nem mesmo surgiram em seu berço, a África, antes de 100.000 anos
atrás. Em relação às evidências do tipo reportado por Stopes, Armand de
Quatrefages escreveu em seu livro
“Hommes Fossiles et Hommes Sauvages” (1884): “As objeções
feitas à existência do homem no Pliosceno e Miosceno parecem ser
habitualmente mais relacionadas a considerações teóricas do que à observação
direta”.
As mais rudimentares ferramentas de pedra, as eoliths (“as pedras da aurora”)
são o assunto do Capítulo 3. Esses instrumentos achados em contextos geológicos
inesperadamente antigos, inspiraram prolongados debates no final do século
dezenove e começo do século vinte.
Para alguns, as eoliths não eram sempre facilmente reconhecíveis como
ferramentas. As eoliths não tinham forma simétrica. Ao contrário, a borda
de uma lasca de pedra natural era quebrada para fazê-la servir para uma
determinada tarefa, como raspar, cortar ou talhar.
Freqüentemente a ponta
ostentava sinais do uso. Os críticos disseram que as eoliths resultaram de
eventos naturais, como o rolar no fundo de rios. Mas os defensores da outra
tese ofereceram contra-argumentos convincentes no sentido de que as forças
naturais não poderiam causar o gasto similar ao conseguido na pedra lascada –
unidirecional em apenas um lado da pedra. No final do século dezenove, Benjamin
Harrison, um arqueologista amador, descobriu eoliths no Platô de Kent, no
sudeste da Inglaterra. Evidências geológicas sugerem que as eoliths foram
produzidas em meados ou no final do Ploisceno, por volta de 2 a 4 milhões de anos
atrás. Entre os que apoiavam a tese decorrente da descoberta de
Harrison estavam Alfred Russell Wallace, co-fundador com Darwin da
teoria da evolução pela seleção natural; Sir John Prestwich, um dos mais
eminentes geologistas ingleses; e Ray E. Lankester, um diretor do
Museu Britânico (História Natural). Embora Harrison tenha descoberto a
maior parte de suas eoliths em depósitos superficiais de cascalho do
Pliosceno, ele também descobriu muitas em níveis mais abaixo, durante uma
escavação financiada e dirigida pela Associação Britânica para o Avanço da
Ciência. Além das eoliths, Harrison achou, em vários lugares no Platô de
Kent, ferramentas de pedra mais avançadas (paleoliths) de antigüidade
plioscênica similar.
No começo do século vinte, J. Reid Moir, um membro do Instituto Real de
Antropologia e presidente da Sociedade de Pré-História da Anglia Oriental,
descobriu eoliths (e ferramentas de pedra mais avançadas) na formação
inglesa de Red Crag. As ferramentas tinham por volta de 2 a 2,5 milhões de
anos. Algumas das ferramentas de Moir foram achadas nos leitos de detritos
de Red Crag e poderiam ter entre 2,5 e 5,5 milhões de anos.