Documentos inéditos reconstituem os
passos de Josef Mengele na América do Sul e mostram como ele usou a identidade
real na Argentina, no Uruguai e no Paraguai.
Como exigia a lei no Uruguai, em
1958, um singelo proclama de casamento foi publicado no jornal do povoado de
Nova Helvécia, a 120 Km de Montevidéu. O oficial Pedro Izacelaya
anunciou o nome dos noivos e recomendava: quem soubesse de algum impedimento
contra a união deveria denunciá-lo durante os oito dias de divulgação do registro,
a contar de 17 de Julho.
Casariam-se Marta Maria Will e Josef
Mengele. Ela viúva e dona de casa. Ele divorciado, médico, nazista e torturador
sádico, responsável direto pela morte de ao menos 3 mil pessoas em experimentos
bizarros no campo de extermínio de Auschwitz.
Ninguém apresentou obstáculos. E
Mengele retomou a rotina tranqüila de empresário bem sucedido em Buenos
Aires. Até que a Alemanha pedisse a sua extradição em 1959, o homem
que mereceu ser chamado de Anjo da Morte sobreviveu na barbas de autoridades alemãs,
argentinas, uruguaias e paraguaias incólume. E feliz.

Gunzburg é um vilarejo ao sul da
Alemanha. Parece pintado a mão. Ali a família Mengele é reverenciada. Em 1907,
Karl Mengele comprou uma fábrica de máquinas agrícolas e faria dela uma das
maiores da Europa. Sob novos donos, existe ainda hoje, batizada Mengele
Agrartechnik. Boa parte dos moradores esta empregada lá.
Há 100 anos, em 16 de março, Karl e a
esposa, Walburg, tiveram o primeiro de três filhos, Josef. Karl esperava que o
primogênito, assumisse os negócios e perpetuasse a dinastia”, afirmam Gerald
Posner e Jonh Ware em Mengele: The Complete Story (sem edição no Brasil). Mas o
ambicioso Josef Queria construir sua própria fama. Dizia que todos ainda veriam
seu nome na enciclopédia.”
O rapaz estudou medicina e
antropologia nas universidades de Munique e Frankfurt. Em 1937, já formado
descolou uma vaga no Instituto para Hereditariedade , Biologia e Pureza Racial
da universidade de Frankfurt e filiou-se ao partido nazista. No ano seguinte,
ingressou na SS, que administrava os campos de extermínio.

Casou-se pouco depois com Irene
Schoenbein, mãe de seu único filho, Rolf. Entre 1939 e 1942. Mengele lutou no
front oriental e recebeu cinco medalhas por bravura.
O emprego que, enfim, o colocaria na
enciclopédia veio em 1943: um posto de médico em Birkenau, parte do complexo de
Auschvitz, na Polônia. O sempre elegante doutor ganhou sinal verde para
realizar atrocidades “em nome da ciência’. Era parte de sua função selecionar
os presos recém chegados. Em segundos, analisava as feições de cada um e
mandava-os as fileiras da direita ou da esquerda: trabalho escravo ou a morte.
Assim teria determinado a execução de 200 mil a 400 mil pessoas.
