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1 de jun. de 2013

Morte da Abraão Lincoln - Conspiração


 O enforcamento dos conspiradores da morte de Abraham Lincoln

"Por favor, não me deixe cair." Essas foram as últimas palavras ditas por Mary Surratt. Foi um apelo desesperado antes que ela, de fato, caísse para a morte do cadafalso de uma forca. A morte de Surratt e de três outros conspiradores condenados pelo assassinato do presidente Abraham Lincoln, marcou o fim de um julgamento e de uma execução que permanecem controversos até hoje, quase 150 anos depois.


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 Os corpos dos executados balançam enquanto que os espectadores começam a sair.
Foto: Alexandre Gardner
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A multidão reunida para a execução, vista a partir do telhado da Old Arsenal Penitentiary.
Foto: Alexandre Gardner

Após o assassinato do presidente Lincoln por John Wilkes Booth em 14 de abril de 1865, uma massiva caçada humana foi lançada para encontrar o assassino e seus companheiros de conspiração. O grupo também tentou, sem sucesso, assassinar o Secretário de Estado William H. Seward e o vice-presidente Andrew Johnson. Seward foi gravemente ferido com uma faca por Lewis Powell, enquanto que o assassinato de Johnson foi abortado por George Atzerodt, que fugiu para Washington. Booth foi descoberto e morto a tiros em uma fazenda no norte da Virgínia, escapando assim do julgamento e da execução enfrentados por seus cúmplices capturados.


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Os conspiradores sobre o andaime com os oficiais. Foto: Alexandre Gardner

Fez bastante calor em 7 de julho de 1865, o dia em que os quatro presos foram levados para a forca. Naquela manhã, os condenado Mary Surratt, Lewis Powell (ou Payne), David Herold e George Atzerodt, ouviam nervosamente os sons da forca  sendo testada. O barulho das armadilhas se abrindo abaixo dos laços deve ter lembrado a eles, que aquelas  eram as últimas horas de suas vidas.
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O General John F. Hartranft lê a sentença de morte para os condenados que aguardam seu destino no cadafalso.
Foto: Alexandre Gardner

A ordem para as execuções veio apenas um dia antes, em 6 de julho, com a notícia sendo dada aos prisioneiros em envelopes lacrados. Podemos apenas imaginar o alarme que os quatro conspiradores condenados devem ter sentido ao descobrir que eles seriam executados, e que, daquele momento em diante, só lhes restariam 24 horas de vida. Muitos ainda esperavam que Surratt, pelo menos, tivesse sua pena reduzida, os esforços de sua filha e de outros para garantir a clemência continuaram até o último momento. Cinco dos nove juízes envolvidos recomendaram clemência à Surrat, para o novo presidente Andrew Johnson, mas a ordem nunca foi assinada.
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Os laços da forca são ajustados. Foto: Alexandre Gardner

Acusada de cumplicidade, bem como ocultar, abrigar e aconselhar os outros réus, Surratt acabaria por ser considerada culpada de conspiração, traição e por ter arquitetado o assassinato de Lincoln. Os outros foram também condenados por suas participações na conspiração: Powell por sua tentativa fracassada de assassinar o secretário de Estado Seward, Herold por ajudar Powell e por ajudar na fuga de Booth e Atzerodt por ter planejado assassinar o Vice-Presidente.

Os advogados de Surratt alegaram que ela era inocente e não tinha sido ligada à trama de forma alguma – um argumento que muitos ainda consideram válido até hoje. A defesa de Powell, por sua vez, alegou que ele foi impulsionado pela insanidade; a de Herold, argumentou que ele era fraco de espírito e insignificante; a defesa de Atzerodt tentou provar que ele era muito covarde para ter desempenhado um papel tão importante na conspiração. Todos esses argumentos, no entanto, foram rejeitados. Os acusados ​​foram considerados culpados e condenados à morte.

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Guardas observam, antes dos corpos serem retirados. Foto: Alexandre Gardner


Precisamente às 01:02 em 7 de julho, Surratt, Powell, Herold e Atzerodt foram levados para o pátio da Old Arsenal Penitentiary, onde foram detidos em frente dos caixões e das sepulturas recém-cavadas que os aguardavam. É difícil saber o que teria inspirado mais medo nos quatro conspiradores condenados: as sepulturas recém-abertas ou a forca recentemente testada.
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                    Os caixões e sepulturas abertas aguardam os corpos dos condenados. Foto:  Alexandre  Gardner


A procissão dos condenados foi liderada por Surratt, que  teve a dúbia distinção de ser a primeira mulher a ser executada pelo governo federal dos Estados Unidos. Fraca pelo choro e por severas dores de estômago,  e, sem dúvida, aleijada pelo medo; Surratt precisou do apoio de soldados e sacerdotes para conduzí-la  através do pátio.


Powell, que tinha tentado o suicídio durante o julgamento, não precisava de tal ajuda. Embora ele, como os outros dois homens, usassem algemas, ele se  comportou ao longo do caminho para a morte "como um rei para ser coroado", conforme descrito por um jornalista. Os outros dois presos,  Herold e Atzerodt, não pareciam tão entusiasmados com suas mortes iminentes e cambaleavam enquanto a forca se aproximava mais e mais.


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Mary Surratt, a primeira mulher a ser executada pelo governo federal dos EUA                                               


Foto: Brady National Photographic Art Gallery

As expressões nos rostos da multidão reunida naquele dia provavelmente  variavam da satisfação à sombria e mórbida curiosidade. Mais de mil pessoas testemunharam a execução, incluindo funcionários do governo, militares, jornalistas, testemunhas, amigos e familiares dos condenados.


Entre a multidão estavam também, cerca   de  200 espectadores ávidos por sangue, que conseguiram ingressos para  a execução. O enforcamento dos conspiradores do assassinato do presidente foi um grande evento, e a procura por ingressos foi enorme.

9_lincoln     Lewis Payne, nascido como Lewis Powell. Foto:                  
 Alexandre  Gardner

O cheiro de madeira  do  andaime apressadamente construído, impregnava o ar quando os quatro prisioneiros condenados subiram os degraus para abraçar a morte. No topo eles receberam cadeiras para sentar, os seus braços foram atados a seus corpos e as pernas amarrados com um pano. A mulher condenada refletia uma figura tétrica, vestida como se fosse para um funeral (o que em certo sentido, era verdade), inteiramente em preto: capote, vestido e véu.


Uma vez que tinham sido amarrados de forma segura, foi lhes dado um tempo para falar com os clérigos, depois,  os condenados foram obrigados a  ficar de pé novamente,  para que  os laços fossem presos em volta de seus pescoços. Os retoques finais foram os capuzes brancos, colocados sobre suas cabeças. Do andaime, Powell falou para Surratt, proclamando sua inocência e acrescentando: "Ela não merece morrer com o resto de nós." No entanto, naquele momento, nada poderia ser feito para impedir a execução .

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David E. Herold. Em sua defesa, alegou-se que ele tinha a mente de uma criança de 11 anos de idade.

                                                                                           Foto: Alexandre Garner
Diz-se que, enquanto ajustava a corda em torno do pescoço de Powell, o carrasco sussurrou no ouvido do prisioneiro, "Eu quero que você morra rápido" (que é provavelmente o melhor que você pode desejar a alguém que está prestes a ser enforcado). "Faça o seu melhor", respondeu Powell. No entanto, uma morte rápida não era para ser seu destino.


Surratt reclamou da rigidez das algemas em torno de seu pulso, então, o carrasco, num tom de gracejo e crueldade, respondeu: "Bem, não vai doer por muito tempo." Os quatro  foram conduzidos para as armadilhas que se abririam abaixo deles, e foi então, que Surratt, em prantos, suplicou : "Por favor, não me deixe cair."

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    George Atzerodt, cujos conhecidos o descreveram no
                    julgamento como um "covarde notório"

Os prisioneiros condenados ficaram lá por alguns momentos, sob o sol escaldante, e as centenas de espectadores devem ter prendido a respiração. Então, as  1:26, o carrasco bateu palmas - o sinal para os soldados  abrirem o cadafalso. Atzerodt gritou: "Que todos se encontrem em outro mundo. Deus vai me levar agora ".


Mary Surratt  pareceu ser a que morreu mais rápido, seu corpo rígido, no final da corda, ficou balançando para lá e para cá. David Herold também estremeceu brevemente, antes de seu corpo ficar imóvel. George Atzerodt e Lewis Powell, no entanto, continuaram a se movimentar freneticamente como se eles fossem lentamente estrangulados pelas cordas, lutando por vários minutos ou mais. Powell pode ter levado mais de cinco minutos para morrer, e por duas vezes,  agitou as pernas antes de finalmente sucumbir à morte.

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     O presidente Abraham Lincoln, que foi baleado em 14 de abril de 1865 e morreu na manhã

seguinte. Foto: Henry F. Warren







Os corpos foram examinados por um médico para garantir que a morte havia levado os quatro condenados, cerca de meia hora depois do enforcamento, as cordas foram cortadas. Eles foram enterrados em covas rasas próximas à forca, com os capuzes ainda na cabeça. No entanto, mais tarde, algumas modificações na prisão fizeram com que os corpos fossem retirados de onde estavam.

O corpo de Surrat foi devolvido à sua família e enterrado no Cemitério de Mount Olive em Washington, DC. Os restos mortais de Herold foram  enterrados  no cemitério do Congresso, também em Washington, DC.  Atzerodt foi sepultado no Cemitério Luterano de São Paulo, em Baltimore. Misteriosamente, em 1992, o  crânio de Powell apareceu  no Departamento de Antropologia do Museu Smithsonian, sendo então enterrado no Cemitério de Genebra, na Flórida, ao lado de sua mãe.

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 O camarote presidencial no Teatro Ford, onde Lincoln foi assassinado.


Até hoje,  há estudiosos do caso, que acreditam que o julgamentos e as subsequentes  execuções foram injustos. Tais observadores apontam para os níveis questionáveis ​​das provas, o pouco tempo dado  a defesa para se preparar e a retenção de provas importantes, dentre outras questões. Os críticos são particularmente enfáticos sobre o enforcamento de Mary Surratt, que segundo eles, não poderia comprovadamente ser ligada à conspiração.



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                 John Wilkes Booth, o assassino do presidente Lincoln, até então conhecido como um ator de teatro famoso


Como acontece com qualquer grande evento desta natureza, há, naturalmente várias teorias conspiratórias mirabolantes, incluindo aquelas que envolvem o Papa e o vice-presidente Andrew Johnson. No entanto, até agora, nenhuma delas foi levada muito a sério.
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      O exterior do teatro Ford, coberto com fitas de crepe preto


Talvez nunca saberemos completamente a verdadeira história por trás do assassinato e os papéis exatos de uma viúva católica devota (Surratt), um  reparador de carruagens (Atzerodt), um assistente de  médico (Herold), e um homem que , apesar do crime violento do qual  foi acusado, em sua juventude era conhecido por sua bondade para com os animais (Powell). Nós, no entanto, temos um registro de suas mortes nas fotografias de Alexander Gardner, o único fotógrafo que teve permissão para assistir à execução.